Uthman Ibn Affan (parte 1 de 2): Generoso e devoto

Por Aisha Stacey (© 2013 IslamReligion.com)

Descrição: Como o terceiro sucessor do profeta Muhammad abraçou o Islã.

Uthman ibn Affan foi o terceiro dos sucessores do profeta Muhammad.  Era conhecido como o líder dos crentes e governou por aproximadamente 12 anos.  Os primeiros seis anos foram tempos de relativa tranquilidade e paz. Entretanto, os últimos anos de seu reinado foram marcados por conflitos internos e focos de rebeldes tentando provocar estragos em todo o califado. Uthman é lembrado como um homem devoto, gentil e amável, conhecido por sua modéstia e timidez e admirado por sua generosidade.  Governou com justiça imparcial e políticas humanas e amenas, baseadas em sua obediência a Deus e seu amor pelo profeta Muhammad e a nação muçulmana.

Uthman, que Deus esteja satisfeito com ele, nasceu sete anos depois do profeta Muhammad, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, e pertencia ao ramo omíada da tribo coraixita.  Os omíadas eram o clã mais influente dos coraixitas. Eram os mais fortes e ricos e Uthman era sua “criança dourada”, o mais amado, devido às suas boas maneiras e timidez.  Como seu predecessor Omar ibn Al Khattab, Uthman era capaz de ler e escrever.  Essa não era uma habilidade comum na Arábia pré-islâmica e Uthman se tornou um comerciante bem-sucedido e negociante de roupas.  Durante toda sua vida foi conhecido como um homem amável e generoso e mesmo antes de sua conversão ao Islã distribuía dinheiro para ajudar os necessitados.

Foi seu amigo próximo Abu Bakr quem introduziu Uthman ao Islã, que abraçou a nova religião com a idade de trinta e quatro anos.  Foi durante os primeiros anos do Islã, quando os homens de Meca estavam sistematicamente insultando e torturando quaisquer convertidos ao Islã.  Apesar dos insultos Uthman não abriu mão de seu Islã e com o tempo casou-se com a filha do profeta Muhammad, Ruqiayah, fortalecendo assim sua relação com o profeta.

Os insultos e tortura continuaram e a riqueza da família de Uthman e o status na sociedade como negociante não o protegeram.  Foi insultado e torturado até por membros de sua própria família; seu tio algemou suas mãos e pés e o fechou em um quarto escuro.  O mau tratamento contínuo por seus familiares próximos levou Uthman e sua esposa a participar na primeira migração para a Abissínia.  O profeta Muhammad louvou seu caráter paciente e disse: “Depois de Ló, Uthman é o primeiro homem que, com sua esposa, abriu mão do conforto de sua casa por causa de Deus.”  Depois de algum tempo Uthman e Ruqiayah retornaram à Meca para estar com os muçulmanos em luta e seu amado pai e profeta.

Uthman formou uma relação muito próxima com o profeta Muhammad e obteve conhecimento intrincado sobre a religião do Islã.  Narrou 146 tradições diretamente do profeta e foi uma das pouquíssimas pessoas que foram capazes de registrar o Alcorão por escrito.  Uthman também se tornou um ponto de referência para os que tentavam aprender os rituais de adoração.  Compreendia e era capaz de instruir os demais nos rituais de ablução, oração e outras obrigações islâmicas.  Uthman também participou na migração para Medina e lá auxiliou o profeta Muhammad no estabelecimento da nação muçulmana.  O profeta Muhammad até se referia a ele como seu assistente.

Em Medina a água era escassa e o controle dos poços era rigorosamente mantido por vários homens.  Como era um comerciante e negociador habilidoso, Uthman se empenhou em tentar comprar um poço para o uso dos muçulmanos.  Negociou um preço pela metade de um poço; teria controle um dia e o outro proprietário no dia seguinte.  Entretanto, Uthman dava sua água aos muçulmanos gratuitamente e, então, ninguém queria pagar pela água nos dias alternados.  O proprietário original do poço não teve alternativa a não ser vender sua metade do poço para Uthman que, entretanto, pagou um preço justo por ele.  Uthman continuou permitindo que a água fosse usada livremente por todos e nunca lembrava o povo de sua caridade.  Era humilde e modesto.

Uthman distribuiu livremente de sua fortuna para agradar a Deus e Seu mensageiro Muhammad.  Relatos históricos islâmicos mencionam que toda sexta-feira Uthman comprava escravos com o propósito de libertá-los e que, embora fosse rico, geralmente era visto sem servos por causa desse hábito.  Quando o profeta Muhammad e as tropas muçulmanas estavam indo combater os bizantinos em Tabuk, conclamou os mais ricos a contribuírem de sua fortuna e bens para apoiar e equipar os soldados.  Uthman apresentou 200 camelos selados e 200 onças de ouro.  Também deu 1.000 dinares.  O profeta Muhammad continuou pedindo doações na esperança de inspirar outros a doar tão livremente quanto Uthman.  Entretanto, foi Uthman quem ultrapassou todos eles e deu um total de 900 camelos equipados.[1]

O retrato que fizemos de Uthman é o de um homem generoso, despretensioso e amável.  Era conhecido por sua humildade, modéstia e devoção.  Uthman frequentemente passava as noites em oração e era conhecido por jejuar com frequência, às vezes em dias alternados.  Apesar de sua fortuna, vivia de forma simples e geralmente dormia envolvido em um cobertor na areia da mesquita.  Uthman foi designado como o terceiro líder dos muçulmanos após o profeta Muhammad por um conselho de seis homens.  Continuou o governo justo e humano do profeta Muhammad, Abu Bakr e Omar.  Cuidou dos muçulmanos e expandiu o califado islâmico até o Marrocos, Afeganistão e Azerbaijão.  Por seis anos seu reino foi de paz e calmaria, mas os ventos da mudança estavam soprando sobre o império.

Uthman ibn Affan, como seus predecessores, era um homem do povo.  Era modesto, tímido e humilde, mas ainda assim seu reinado foi marcado por insurreições e rebeliões.  Deus havia escolhido Uthman para ser o terceiro líder, mas o povo da dissensão planejou removê-lo de sua nobre posição.  O profeta Muhammad havia profetizado que Uthman seria colocado em uma situação muito difícil quando disse: “Talvez Deus venha a vesti-lo com uma túnica Uthman e se as pessoas quiserem tirá-la de você, não a remova por elas.”  Uthman não removeu sua túnica, seu amor por Deus e seu mensageiro o manteve forte e humilde em face da velhice e extremas dificuldades.


Footnotes:

[1] The Sealed Nectar.  Safi Ur Rahman Al Mubarakpuri.

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