O amor dos companheiros pelo profetaMuhammad (parte 2 de 2): Devoção sem comparação

Por Aisha Stacey (© 2016 IslamReligion.com)

Descrição: Em um mundo violento um homem ficou ao lado da retidão e foi recompensado com a devoção e amor de seus seguidores.  

A Arábia era uma sociedade violenta e dominada por homens.  Os fortes eram bem-sucedidos enquanto que os fracos pereciam.  As mulheres eram menos que bens e os bebês do sexo feminino eram enterrados vivos, com menos cuidado do que hoje enterramos nossos animais de estimação.  Essas eram as condições sob as quais viviam os homens, mulheres e crianças que se tornaram companheiros do profeta Muhammad.  Foi nessa sociedade sem lei que Deus interveio e deu ao mundo o homem conhecido como “uma misericórdia para a humanidade”.  Esse era um homem que valorizava a vida, honestidade e generosidade.  As pessoas o admiravam por sua confiabilidade antes mesmo da revelação do Islã.  Era carismático e acessível a todos, homens, mulheres e crianças. 

“Nós te enviamos [Ó Muhammad] como uma misericórdia para todos os mundos.” (Alcorão 21:107)

Muhammad era um homem altruísta que devotou os últimos 23 anos de sua vida ensinando seus companheiros e seguidores como adorar Deus e respeitar a humanidade.   Transmitiu a mensagem imbuída com conceitos de misericórdia, perdão e justiça para todos.  Era uma mensagem de muito apelo para os pobres e destituídos, dos quais havia muitos, mas também tinha muito apelo para os ricos. 

O profeta Muhammad viveu em mundo em que os fortes dominavam e os fracos pereciam, mas mesmo antes do Islã ele era um homem acolhedor e de coração gentil, cujas características e qualidades admiráveis faziam as pessoas se aproximarem dele.  Era um jovem casto e contemplativo e, ainda assim, os jovens selvagens e indisciplinados gostavam de compartilhar de sua companhia.  Era o que chamamos hoje de um bom rapaz, no qual se podia confiar.  Quando se tornou adulto o profeta Muhammad era conhecido como um bom amigo e homem de negócios honesto.  Entre as pessoas de Meca era conhecido como Al-Amin – o confiável.  Recorriam a ele em busca de julgamento e aconselhamento e, por causa de sua honestidade, geralmente lhe pediam para mediar disputas ou custodiar itens. 

As pessoas que conheciam melhor o profeta Muhammad tiveram pouca dificuldade de aceitar sua missão profética ou a mensagem impressionante com a qual buscou inspirar as pessoas.  Estavam cientes de seu caráter, particularmente sua ausência de arrogância, e sua compaixão pelos menos afortunados do que ele próprio.  Entre os primeiros seguidores do profeta Muhammad estavam muitos pobres, destituídos e solitários.  Corriam para o seu lado, ansiosos por conforto em suas palavras e atos.  Muitos sentiam como se finalmente tivessem alguém que compreendia suas necessidades físicas e se importava com o estado de suas almas.  Entretanto, infelizmente essas pessoas foram as primeiras a serem ridicularizadas e então torturadas e abusadas por suas novas crenças.  Não tinham apoio tribal e muitos sofreram terrivelmente por causa de seu apego ao profeta Muhammad e aceitação de sua mensagem do Islã.

De acordo com o biógrafo Ibn Ishaq, um escravo chamado Bilal sofreu terrivelmente por sua aceitação imediata da mensagem de Muhammad.   Foi espancado sem misericórdia, arrastado pelas ruas e vales de Meca pelo pescoço e sujeito a longos períodos sem comida ou água.   Relata-se que seu dono Umayya ibn Khalaf “na parte mais quente do dia o deitou de costas no chão do vale, colocou uma grande pedra sobre seu peito e disse ‘ficará aí até que morra ou negue Muhammad e adore al-Lat e al-’Uzza’”.[1] Bilal não renunciou ao Islã e no meio de seu sofrimento pronunciou uma única palavra – Ahad (significando Deus Único).

Depois de vários anos de boicote econômico, abuso e tortura, os novos muçulmanos não tiveram escolha exceto migrar para a cidade de Yathrib (Medina).  Lá as pessoas estavam prontas para dar as boas vindas ao profeta Muhammad como seu líder secular e espiritual, mas deixar Meca, especialmente em massa, se provou problemático.  Os líderes de Meca já estavam indignados porque o profeta Muhammad ousou questionar e alterar seus estilos de vida.  Agora, partir sem punição e sem se arrepender lhes parecia ser o maior dos insultos.  Nesse período os companheiros do profeta Muhammad também demonstraram sua devoção e amor por ele.  Os muçulmanos começaram a migrar e os politeístas não pouparam esforços para prejudicá-los.

Um jovem chamado Hubaib foi enforcado no cadafalso e, para salvar sua própria vida, deveria dizer que desejava que o profeta Muhammad estivesse em seu lugar.  Ele respondeu à exigência com grande coragem dizendo: “Nunca! Não só não quero que tome meu lugar, como não quero que nem um espinho perfure seu pé.” Ouviu-se um dos líderes de Meca dizer: “Nunca vi ninguém no mundo tão amado por seus amigos como Muhammad é amado pelos seus companheiros.”[2]

Enquanto muitos muçulmanos partiram encobertos pela escuridão, um homem chamado Suhaib expressou abertamente seu desejo de migrar.  Os líderes de Meca começaram a insultá-lo e a dissuadi-lo, até claramente exigir que permanecesse em Meca.  Suhaib, um homem rico, lhes ofereceu toda sua fortuna em troca do direito de partir sem obstruções e isso foi, por fim, aceito.  Esses companheiros não se preocuparam em abrir mão de tudo que tinham para estar com o homem que amavam e admiravam.  Quando o profeta Muhammad ouviu sobre o dilema de Suhaib e o que ele fez para migrar, disse: “Suhaib fez uma troca bem-sucedida!”[3]

Logo os líderes de Meca cercaram sua própria cidade para impedir a migração para Medina.  Observavam de perto a casa do profeta Muhammad, sabendo que enquanto ele permanecesse em Meca nem tudo estava perdido.  Na noite em que o profeta Muhammad decidiu partir para Medina com seu amigo e confidente Abu Bakr, seu jovem primo Ali escolheu ficar em seu lugar na casa disfarçado como o profeta.   Ali dormiu na cama de Muhammad, coberto pelo manto de Muhammad.  Ali sentia que era protegido por Deus porque estava tentando proteger o mensageiro de Deus.  Os homens guardando a casa não tinham ideia de que o profeta Muhammad havia escapado de sua rede.   Entretanto, durante o dia Ali foi interrogado sobre o paradeiro dos dois fugitivos, sem dizer nada. 

Essa anedota também serve para nos lembrar de que as mulheres não eram menos devotadas ao profeta Muhammad, que Deus o exalte.  Quando não foi obtida nenhuma informação de Ali sobre o paradeiro do profeta, começaram a intimidar e abusar fisicamente de Asma, a filha de Abu Bakr, companheiro de viagem do profeta Muhammad.  Aparentemente essa jovem foi seriamente esbofeteada no rosto e cabeça.  Mas Asma não foi detida e levou alimentos para o profeta e o pai enquanto se escondiam nas cavernas fora de Meca.

Todos os companheiros do profeta Muhammad pensavam nele com amor e afeição e eram mais devotados a ele que aos seus próprios bem-estar e conforto.  Os companheiros se preocupavam com as necessidades dele e dedicaram suas vidas a ele e a mensagem do Islã.  Se suas dedicações fossem mencionadas, respondiam dizendo: “Ó profeta de Deus, você nos é mais querido que nossos próprios pais”.


Notas de rodapé:

[1]Idolatria pelo povo de Meca.

[2] Ibn Sai’d

[3] Ibn Hisham.

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