O amor dos companheiros pelo profeta Muhammad (parte 1 de 2): Quem eram os companheiros?

Por Aisha Stacey (© 2016 IslamReligion.com)

Descrição: Uma descrição da sociedade árabe no advento do Islã e um breve olhar nas pessoas ao redor do profeta Muhammad.

A definição mais amplamente aceita de um companheiro do profeta Muhammad é alguém que encontrou e acreditou no profeta Muhammad e morreu como muçulmano.  A tradução em árabe da palavra companheiro é sahabi e companheiros (plural), sahaba.  Como todas as palavras árabes existem muitas nuances e níveis de significado.  A raiz da palavra é sa-hi-ba e significa proximidade física ou se sentar com. Portanto, um sahabi geralmente é considerado alguém que foi próximo do profeta Muhammad e passou tempo considerável em sua companhia ou presença.  Os companheiros, homens, mulheres e crianças, amavam profundamente o profeta Muhammad e qualquer um deles daria a vida em sua defesa ou em defesa da religião emergente.

Tanto Deus quanto o profeta Muhammad retribuíam o amor e devoção dos companheiros.

“Quanto aos primeiros (muçulmanos), dentre os migrantes e os socorredores (Ansar do Mensageiro), que imitaram o glorioso exemplo daqueles, Deus se comprazerá com eles e eles se comprazerão n’Ele; e lhes destinou jardins, abaixo dos quais correm os rios, onde morarão eternamente.” (Alcorão 9:100)

O profeta Muhammad, que Deus o exalte, disse: “O melhor de minha nação é a minha geração e depois aquela que a sucede e então aquela que a sucede.” [1]

Os companheiros são considerados a melhor geração da nação islâmica, na época e agora.  Aprendemos sobre suas etiquetas e maneiras, lemos suas histórias e nos maravilhamos com suas façanhas; admiramos seu zelo religioso e sua profunda devoção a Deus e Seu mensageiro.  Entretanto, com frequência nos falta um entendimento holístico de suas vidas.  Quem eram esses homens, mulheres e crianças? Quais eram suas vidas antes do advento do Islã? Que tipos de pessoas eram antes de escolherem amar e seguir o profeta Muhammad? E, além disso, o que havia no profeta Muhammad que produzia essa devoção completa? 

As pessoas que viviam na sociedade do profeta vinham de estilos de vida diferentes, exatamente como você encontraria hoje em uma cidade pequena.  Alguns eram ricos e outros pobres, alguns eram gentis e outros cruéis. Alguns eram honestos e outros não eram. Os companheiros do profeta, que Allah o exalte, eram os melhores dentre todas as pessoas. Ibn Masud, um dos companheiros, disse: “Allah, o Exaltado, escolheu Muhammad como Seu profeta porque ele era o mais piedoso de Seus servos e Allah o enviou com a Mensagem. Allah então escolheu os companheiros do profeta para estarem com ele, porque eles eram os melhores dentre todas as pessoas depois dele.”

Na Arábia pré-islâmica não havia sistema de governo e, portanto, não havia lei e nem ordem.  Se fossem cometidos crimes, a parte prejudicada fazia justiça com suas próprias mãos.  Uma pessoa só se sentia segura entre sua própria tribo e parece que a península estava em um estado constante de guerra.  As disputas eram acertadas em batalhas e códigos antigos e galantes, assim como sistemas de honra, eram reconhecidos e usados.  O comércio caravaneiro era uma característica importante na Arábia e se fazia e perdia fortunas por meio do comércio de coisas tão diversas como camelos, passas e barras de prata.

O Islã foi capaz de pegar e usar o melhor da sociedade árabe.  Suas características inatas de valor, força e furor foram canalizadas e domadas pelo Islã.  Uma conexão com Deus mudou as vidas dos companheiros do profeta Muhammad.    O Islã pegou um povo indisciplinado e usou para estabelecer um sistema de governo diferente de qualquer outro conhecido pela humanidade.  O amor pelo profeta Muhammad mudou vidas então, assim como o faz agora.  Deixe-nos olhar para algumas das mudanças nas vidas dos companheiros e veremos que a primeira geração de muçulmanos era muito semelhante às pessoas que se convertem ao Islã agora, no século 21. 

Hamzah lbn Abdul Muttalib, o tio paterno do profeta, tinha a mesma idade de Muhammad e eles brincavam juntos quando crianças.  Entretanto, quando cresceram seguiram caminhos diferentes.  Hamzah preferiu a vida de lazer tentando assegurar um lugar entre os líderes de Meca, enquanto que Muhammad escolheu uma vida de contemplação.  Hamzah desfrutava sua vida e era forte e bem respeitado.   Parecia estar no caminho da liderança, mas logo todos os seus conhecidos falavam sobre Muhammad e de como ele estava destruindo o estilo de vida que tinham passado a desfrutar.  Hamzah se viu tendo que tomar uma decisão quando um dia soube que Muhammad havia sido insultado pelos homens que tinha como amigos em sua busca pela vida boa.  Escolheu Muhammad e se converteu ao Islã e, ao fazê-lo, deu as costas a uma vida de luxo e indolência.  Hamzah conhecia bem Muhammad, o amava como a um irmão e não achou que fosse uma decisão difícil de tomar.

O caminho de Omar Ibn Al Khattab para o Islã começou com um ódio veemente de Muhammad, mas aquele ódio logo se transformou em amor profundo.  Quando os ensinamentos de Muhammad se tornaram um problema para os homens de Meca, Omar pronunciou seu ódio pelo Islã abertamente e participou do abuso e tortura de muitos dos convertidos mais fracos ao Islã.   O ódio de Omar pelo Islã e pela forma como a religião mudava as vidas era tão forte, que Omar se ofereceu como voluntário para matar o profeta Muhammad.   Ao tomar a decisão e sem um segundo de hesitação, desceu as ruas de Meca com a intenção de desembainhar sua espada e acabar com a vida do profeta de Deus.  Omar era um homem forte, temido e admirado por sua coragem, mas ele também foi vencido pela beleza sublime do Alcorão e seu reconhecimento da bondade e justiça inatas do homem Muhammad.

O líder de Meca conhecido como ‘Abu Jahal’ (ou seja, pai da ignorância) se chamava de fato Amr ibn Hisham e era comumente conhecido como ‘Abu Hakam’ (pai de sabedoria).  Sua hostilidade e beligerância incansáveis em relação ao Islã, entretanto, fez com que conquistasse o nome de Abu Jahal entre os muçulmanos.  Era um politeísta declarado e odiava o profeta Muhammad.  Aproveitava toda oportunidade para amaldiçoá-lo e humilhá-lo.  Se descobrisse um convertido, o recriminava e humilhava.  Se descobrisse um negociante que tinha se convertido ao Islã, ordenava que ninguém negociasse com ele, arruinando dessa forma seu meio de sustento e fazendo com que empobrecesse.  Abu Jahal pereceu na primeira batalha travada contra os mecanos, a batalha de Badr.  Seu filho Ikrimah, entretanto, se tornou um dos líderes civis e militares importantes da nação islâmica.  Depois de anos de ódio pelo Islã, abraçou a nova fé quando observou a justiça do profeta Muhammad com as pessoas de Meca.  Quando Meca foi conquistada o profeta Muhammad podia ter facilmente condenado à morte seus inimigos, mas seu senso de retidão fez com que concedesse perdão e anistia gerais. 

Esses três homens eram muito fortes, tanto em caráter quanto fisicamente.  Não eram dominados facilmente e eram geralmente os que estavam em posição de comando.  Tomaram decisões rápidas e firmes de abraçar o Islã e seguir o profeta Muhammad.  No próximo artigo veremos as qualidades e traços de caráter do profeta Muhammad e perguntaremos o que fez as pessoas suportaram tortura e tribulações para apoiar sua nova religião e seguir seu profeta. 


Notas de rodapé:

[1] Saheeh Al-Bukhari

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