Literacia no Islã (parte 3 de 3): Educação para todos

  • Por Aisha Stacey (© 2013 IslamReligion.com)
  • Descrição: Educação no início da história islâmica.

    “Lê, em nome do teu Senhor Que criou; Criou o homem de algo que se agarra.  Lê, que o teu Senhor é Generosíssimo, Que ensinou através do cálamo, Ensinou ao homem o que este não sabia.” (Alcorão 96:1-5)

    Literacy_in_Islam_(part_3_of_3)_PT-BR_001.jpgA primeira palavra do Alcorão revelada ao profeta Muhammad, que Deus o louve, foi .  Lê em nome de teu Senhor.   Deus pede aos crentes que leiam, busquem conhecimento, contemplem o universo e suas maravilhas e sejam agradecidos.  Consequentemente, desde o primeiro dia o Islã encorajou a literacia e a educação.  Em todo o Alcorão Deus repetidamente enfatiza a importância da educação.

    “Deus dignificará os crentes, dentre vós, assim como os sábios.” (Alcorão 58:11)

    “Não te apresses (Ó Muhammad) com o Alcorão antes que sua inspiração te seja concluída.   Outrossim, dize: Ó Senhor meu, aumenta-me em sabedoria!” (Alcorão 20:114)

    Desde seu começo o Islã encorajou o aprendizado.  Promove a pesquisa científica; círculos abertos de aprendizado; o uso de recursos comunitários, análise pelos pares; abordagens de solução de problemas; narração de histórias e educação livre.  A importância do aprendizado é destacada pelo fato de que o profeta Muhammad estabeleceu a educação como parte integral do Islã.

    O profeta Muhammad estabeleceu as primeiras Sessões de Conhecimento na Dar’ul Arqam.[1]  Sentava na mesquita após as orações com seus companheiros reunidos ao seu redor, ensinando sobre as bases do Islã, a importância da moralidade e, o mais importante, a Unicidade de Deus.  O profeta Muhammad ensinava versículos do Alcorão aos alunos em suas sessões de conhecimento e enviou professores do Alcorão para comunidades fora de Meca e Medina.

    A memorização e compreensão do Alcorão eram, e continua a ser, o assunto mais importante na educação islâmica, seguidas do aprendizado e memorização das tradições do profeta Muhammad.  Essas tradições são transmitidas através de uma cadeia de narração que garante sua autenticidade, de forma muito semelhante às listas de referências e bibliografias usadas hoje para garantir a honestidade na erudição.

    Os professores acompanhavam de perto as tradições do profeta Muhammad, que Deus o louve.  Sentavam no chão com seus pupilos sentados em semicírculo à sua frente.  Ao lado do professor ficava seu aluno mais confiável e dedicado, transcrevendo tudo que era dito.  A educação no Islã cresceu rapidamente de pequenos círculos de aprendizado para escolas anexadas às mesquitas.  Dentro de pouco tempo, escolas maiores e universidades começaram a florescer em todo o califado islâmico.

    À medida que o califado expandia, o método de ensino do profeta se propagava.  Reunir-se e transmitir o Alcorão e o conhecimento islâmico era considerado uma ocupação louvável.  Os kuttabs (homens sábios) e os muallams (professores) eram encontrados em toda cidade e aldeia islâmica.  Ibn Hawqal em sua visita à Sicília afirma ter contado em torno de 300 professores do fundamental.  Jubayr b. Hayya, que posteriormente foi um representante do governo e governador no início do califado islâmico, era professor em uma escolar em Taif.  Conta-se que personalidades islâmicas como al-Hadjadd e os poetas al-Kumayt e al-Tirimmah eram professores.[2]

    Os eruditos mais renomados e respeitados consideravam ensinar uma honra.  Conta-se que Ibn Muzahim (m. 723 EC), exegeta, tradicionalista e gramático mantinha uma escola em Kufa frequentada por mais de 3.000 crianças.  Para supervisionar todos os seus pupilos, cavalgava em uma mula entre as colunas de crianças.

    Outras disciplinas passaram a ser adicionadas à educação islâmica.  Havia aulas de etiqueta islâmica, lei e jurisprudência islâmica, matemática, gramática e medicina, agricultura, ética, civismo, economia e história.  Os professores, seus assistentes e alunos levavam a educação a sério.  O método de um professor é descrito na passagem que se segue.

    “Repassamos a passagem do livro de jurisprudência  várias vezes; a revisamos com os alunos depois que a memorizaram; chamamos a atenção para as decisões judiciais divergentes dos imames Malik e Abu Hanifa em particular e às vezes de outros e para as reservas do texto.  Então citou os textos de evidência, apresentou casos análogos em linguagem bem clara, repetindo-os em palavras diferentes até que mergulhassem nas mentes dos alunos.”[3]

    As mesquitas e escolas geralmente eram instituições de caridade.  A literacia e a educação eram encorajadas de forma tão vigorosa que nenhum pupilo era rejeitado.  Falta de dinheiro não significava falta de educação.  Existem semelhanças notáveis entre procedimentos estabelecidos nas instituições islâmicas iniciais e os complexos educacionais de hoje.  Havia prêmios para concursos de proficiência, poesia e oratória; havia avaliações e os alunos recebiam notas.

    Ibn Sina (conhecido no ocidente como Avicena) foi um educador famoso, que era pensador, médico e professor.  No século 10 EC escreveu livros didáticos de medicina que foram usados como referências médicas primárias por mais de 800 anos.  Ibn Sina desenvolveu currículos e teorias de educação capazes de resistir aos testes do tempo.

    Enfatizou a necessidade de as crianças aprenderem o Alcorão, poesia, devoção e ética.  Mas não ignorou a necessidade da criança por brincadeiras, movimento e diversão.[4]   Ensinava que o objetivo geral da educação era o crescimento físico, espiritual e moral de cada indivíduo.  Considerava a educação uma forma de preparar as crianças para que fizessem uma contribuição duradoura para sua sociedade.

    Embora iletrado, o profeta Muhammad, que Deus o louve, compreendeu a importância da literacia e educação.  Inspirou seus seguidores a buscar conhecimento e passá-lo adiante.  Ensinou a importância da memorização do Alcorão e de agir em conformidade com o conhecimento que ele transmite.  Encorajou seus seguidores a olhar os sinais da magnificência de Deus no mundo ao seu redor.  Para amar a Deus é preciso conhecê-Lo e o conhecimento Dele vem com a compreensão do esplendor do mundo que criou.  O conhecimento é a chave para amarmos nosso Criador e adorá-Lo da melhor maneira.

     


    Footnotes:

    [1]Ver parte 2 de Literacia no Islã.

    [2]http://www.muslimheritage.com/topics/

    [3]A. S. Tritton: Muslim Education in the Middle Ages (Educação Islâmica na Idade Média, em tradução livre).  Londres: Luzac & Co. Ltd., 1957, p. 90.

    [4](http://www.muslimheritage.com/topics/default.cfm?TaxonomyTypeID=101&TaxonomySubTypeID=129&TaxonomyThirdLevelID=-1&ArticleID=1063)

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