LIDANDO COM O SOFRIMENTO NO ISLÃ (PARTE 5 DE 5)

  • Por J. Hashmi (© 2015 IslamReligion.com)
  • Descrição: Então como devemos lidar com o sofrimento?

  • Dealing_with_Grief_in_Islam_(part_5_of_5)_por-BR_001.jpgTudo o que foi afirmado nesse artigo é extremamente interessante, mas tudo se resume a uma pergunta: como devemos lidar com o sofrimento quando a calamidade nos atinge?  Toda pessoa na terra enfrentará algum sofrimento em sua vida e algumas mais que outras.  As pessoas lidam com o sofrimento de maneiras diferentes, mas como um crente deve lidar com ele?

    A primeira coisa que um crente deve perceber é que a calamidade vem de Deus.  O Alcorão declara:

    “Tudo (bom ou mal) emana de Deus!” (Alcorão 4:78)

    Quando percebemos que vem de Deus, devemos perceber que Deus é o Amoroso (Al-Wadud) e o Bondoso (Al-Barr).  Portanto, há algum bem no que Deus decretou para nós, mesmo que não o vejamos imediatamente. Deus, Todo-Poderoso, diz:

    “É possível que repudieis algo que seja um bem para vós e, quiçá, gosteis de algo que vos seja prejudicial; todavia, Deus sabe todo o bem que fizerdes, Deus dele tomará consciência.” (Alcorão 2:216)

      O imame Al-Hasan al-Basri, um grande sábio do Islã, explicou:

    “Não se ressinta das calamidades e dos desastres que ocorrem. Talvez em algo que desgoste esteja sua salvação e em algo que prefira esteja sua perdição.”

    Por exemplo, se um homem é demitido, talvez signifique conseguir um emprego melhor pelo qual não teria optado se não tivesse sido demitido, em primeiro lugar.  Um dos benefícios da calamidade é que sabemos com certeza que os pecados de uma pessoa são perdoados, pela vontade de Deus. Mus’ab b. Sa’d b. Malik narrou que seu pai disse:

    “Ó mensageiro de Allah, quem são as pessoas mais testadas nesse mundo? Ele respondeu: “Os profetas e então os semelhantes a eles (ou seja, os virtuosos e tementes da Deus). Um homem será testado de acordo com sua piedade e fé. Se o indivíduo for forte na fé, será testado de uma maneira severa. Se a fé do homem é fraca, será testado de acordo. Uma pessoa será atingida por calamidades até que esteja livre de pecados.” (Ibn Hibban #2901)

     Fadl ibn Sahl disse:

    “Há uma bênção na calamidade que o homem sábio não deve ignorar, porque a calamidade apaga pecados, dá oportunidade de obter recompensa pela paciência, dissipa a negligência, relembra das bênçãos em tempo de saúde, convida ao arrependimento e encoraja a caridade.”

    O crente deve se voltar para Deus quando afligido pela calamidade.  Dessa forma, a calamidade lembra ao crente de que seu único propósito na vida – a razão de sua criação – é adorar somente a Deus.  Esse é de fato o significado de nossa existência e o propósito de nossa vida.  Deus diz no Alcorão:

    “E Eu [Deus] não criei os jinns e a humanidade exceto para Me adorarem.” (Alcorão 51:56)

    Geralmente quando a vida é boa e o homem vive em prosperidade, ele se esquece de adorar a seu Senhor.  Somente quando afligido pela calamidade ele se lembra de invocar Deus.  Dessa forma, a calamidade serve como um lembrete para cumprir o propósito para o qual fomos criados.  O sheikh Ibn Taymiyyah disse:

    “Uma calamidade que faz com que se volte para Deus é melhor do que uma bênção que faz com que se esqueça de Deus.”

    O imame as-Sufyan disse:

    “O que uma pessoa desgosta pode ser melhor para ela do que aquilo que aprecia, porque o que desgosta faz com que invoque Deus, enquanto que aquilo que aprecia pode fazer com que seja negligente com a adoração.”

    Portanto, sempre que a calamidade afligir, devemos mostrar nossa gratidão a Deus dizendo “Todos os louvores são para Deus” (Al-Hamdu Lillah).  O profeta Muhammad, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, disse:

    “Como é maravilhoso o assunto do crente, porque seus assuntos são todos bons, e isso não se aplica a ninguém mais, além do crente. Se algo de bom lhe acontece, é agradecido e isso é bom para ele. Se algo de mal lhe acontece, aguenta com paciência e é bom para ele.” (Sahih Muslim)

    Quando o sheikh Ibn Taymiyyah foi aprisionado injustamente considerou uma bênção que seus inimigos tinham lhe permitido.  Usava aquele tempo para aumentar sua adoração a Deus.  Ele disse:

    “O que meus inimigos podem fazer comigo? … Meu aprisionamento é um retiro religioso (uma oportunidade para adorar Deus), meu assassinato é martírio e ser expulso de minha cidade é uma jornada.”

    O Profeta Muhammad disse:

    “Não há um muçulmano que afligido por uma calamidade e que diga ‘Verdadeiramente a Deus pertencemos e a Ele retornaremos. Ó Deus, me recompense por minha aflição e me compense com algo melhor’, que Deus não compensará com algo melhor.” (Sahih Muslim)

    Devemos lembrar que Deus testa aqueles que mais ama.  O Profeta disse:

    “A maior recompensa vem com o maior teste. Quando Deus ama uma pessoa, Ele a testa. Quem aceita isso, obtém Sua satisfação.” (Al-Tirmidhi)

    E o Profeta disse ainda:

    “O caminho para o paraíso é cercado de dificuldades.”

    Calamidade e sofrimento é uma forma de ter nossos pecados perdoados nessa vida, para que não tenhamos que enfrentar a punição para esses pecados na vida futura.  O Profeta Muhammad disse:

    “As tribulações continuarão a recair sobre o crente e a crente – em relação a si mesmos, seus filhos e sua riqueza – até que encontrem Deus sem qualquer pecado.” (Al-Tirmidhi)

    Deus não nos manda calamidades para nos destruir, abalar nossa determinação ou acabar conosco, mas sim como um meio de nos avaliar e testar nossa paciência e fé.  Se não fosse pelos testes e tribulações, uma pessoa desenvolveria arrogância, negligência e dureza no coração, o que a levaria ao inferno.  São de fato uma misericórdia de Deus enviada para nos curar dessas doenças do coração e eliminar todos os maus elementos em nossa personalidade que podem levar à nossa perdição.

    Quando alguma calamidade nos aflige nessa vida, devemos lembrar que Deus nos recompensará, mas devemos ser pacientes. A recompensa suprema não será nessa vida, mas na próxima e nisso devemos obter nosso conforto.  Abu Sufyan perdeu seu olho na batalha enquanto defendia os muçulmanos e pediu ao profeta para orar a Deus para que ele (Abu Sufyan) tivesse sua visão de volta.  O profeta perguntou a ele se preferia ter seu olho nessa vida ou na outra e Abu Sufyan respondeu que preferia a recompensa na outra vida.  Abu Sufyan perdeu seu outro olho também.

    Deus diz:

    “Agraciamos com a Nossa misericórdia quem Nos apraz e jamais frustramos a recompensa dos benfeitores. A recompensa da outra vida, porém, é preferível para os crentes, que são constantes no temor (a Deus).” (Alcorão 12:56-57)

    Um crente não deve nunca se desesperar da misericórdia de Deus e achar que Deus não o tirará dessa situação difícil.  De fato, o nome de Satanás em árabe (Iblis) vem da palavra raiz ablasa, que significa “se desesperar”. Uma calamidade afligiu Satanás (foi “rebaixado” quando o profeta Adão foi criado) e ao invés de pensar que isso era algo bom vindo de Deus, Satanás se desesperou da misericórdia de Deus e começou seu estilo de vida hedonista.  Da mesma forma, quando a calamidade aflige algumas pessoas elas recorrem a bebidas e outros recursos pecaminosos para aliviar sua dor.  Mas os crentes não entram em desespero e sim se voltam para Deus em oração.  Deus assegura Sua criação:

    “Pelas horas da manhã, E pela noite, quando é serena, Que o teu Senhor não te abandonou, nem te odiou. E sem dúvida que a outra vida será melhor, para ti, do que a presente. Logo o teu Senhor te agraciará, de um modo que te satisfaça.” (Alcorão 93:1-5)

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