- Por J. Hashmi (© 2015 IslamReligion.com)
Descrição: O sofrimento é uma maneira de se purificar.
Outro bem que vem do sofrimento é que a alma é purificada por meio dele. O profeta Muhammad declarou:
“Por Aquele em Cuja Mão está a minha alma (ou seja, Deus), nenhum crente é atingido pela fadiga, exaustão, preocupação ou sofrimento, nem que seja o espetar de um espinho, sem que Deus o perdoe por alguns de seus pecados.” (Musnad Ahmad)
Algumas pessoas descrevem um sentimento de azia quando sofrem. A nível físico, pode ser apenas um refluxo gástrico trazido pelo estresse e ansiedade, mas a nível simbólico representa o coração espiritual queimando os pecados como uma fornalha poderosa. Quando um crente é afligido com sofrimento, Deus expia alguns de seus pecados como misericórdia. Como consequência, aquela pessoa não será punida por aqueles pecados na outra vida e, portanto, estará na direção do paraíso.
Talvez um cético possa se perguntar por que Deus não perdoa simplesmente Seus servos, sem afligi-los com sofrimento nessa terra ou na outra vida. A resposta a isso é que Deus de fato perdoa todo e qualquer pecado, desde que Seu servo vá a Ele penitente e buscando Sua graça e perdão. O homem que vai a Deus em busca de perdão, Deus perdoará sem qualquer punição ou retribuição. Deus eliminará seus pecados como se nunca tivessem acontecido. De acordo com o profeta Muhammad, quem se volta para Deus em penitência será perdoado “mesmo que seus pecados sejam tantos quanto as ondas do oceano, tão numerosos quanto os grãos de areia, tão pesados quanto as montanhas, tantos quanto as gotas de chuva e as folhas em todas as árvores.”
Deus perdoa quem busca Seu perdão porque Ele ama os crentes que são humildes perante Ele, que se penitenciam diante Dele e cujos corações lamentam por desobedecê-Lo. O Alcorão diz:
“Deus ama os que se arrependem.” (Alcorão 2:222)
Mas e aquele que peca e nunca pede o perdão de Deus? O que continua a pecar sem planos de parar? Deus não deixa que todos os pecados fiquem impunes porque isso faria as pessoas se tornarem negligentes e más. A aplicação da punição sobre esses pecadores é para o próprio benefício deles, assim como a aplicação da punição de um pai sobre seu filho é para o próprio benefício da criança. Por exemplo, um menino de seis anos coloca o dedo em uma tomada elétrica. O pai, temeroso que o menino se eletrocute, o pune por isso. Um pai ameaça punir seu filho somente como benefício para a criança, mesmo que a criança recalcitrante possa ser muito imatura para perceber que a punição seja resultado do amor e preocupação de seu pai. Se a criança coloca o dedo na tomada, será ela – não o pai -, que será eletrocutada. Da mesma forma, se pecamos, fazemos isso em nosso próprio detrimento e a glória de Deus não é afetada. A punição mundana é, portanto, um meio, não um o fim. O objetivo da punição não é punir, mas servir como um forte impedimento.
Se um pai é muito leniente com seu filho e não diz nada quando a criança coloca o dedo na tomada, então o menino não se dará conta da gravidade do que está fazendo. Continuará a repetir o ato até que um dia será eletrocutado e morrerá. Da mesma forma, se Deus não envia aflição a Seus servos eles podem não se dar conta do erro em seus estilos de vida até que alcancem a morte espiritual. Por exemplo, o marido mulherengo pode nunca se dar conta de que suas indiscrições um dia levarão ao rompimento de sua família, o jogador compulsivo pode não perceber que seu vício levará a falência e o alcoólatra pode não enxergar que sua bebedeira levará a uma vida de miséria e vazio. Então Deus envia punições a essas pessoas, não só para expiar seus pecados, mas também para alertá-las e despertá-las.
Imagine a criança que sabe que seus pais não farão nada se for pega com drogas. Seria negligência parental e levaria a criança a se prejudicar sem medo de repercussões. Portanto, um pai responsável estabelecerá certas diretrizes para que a criança saiba que se for pega com drogas, será punida. Isso faz com que a criança se mantenha afastada das drogas por medo da punição. De forma semelhante, a criação do inferno – embora seja uma punição – também é uma misericórdia para a humanidade, através da qual Deus origina o bem. O inferno é uma punição com a qual Deus ameaça Seus servos para que temam a Deus e O obedeçam. Essas pessoas então se tornarão espirituais, virtuosas e corretamente orientadas. Isso não beneficiará Deus, mas eles se beneficiarão. Deus não precisa deles, mas eles precisam de Deus em suas vidas.
Mas Deus dá a Seus servos muitas chances e avisos antes de condená-los ao inferno. Uma analogia é a do policial que pega um motorista em alta velocidade. A primeira vez que o motorista é pego, o policial dá um aviso. Na segunda vez, o policial aplica uma multa de R$ 50,00. Na terceira, uma multa de R$ 300,00. Na quarta vez, tem que cumprir serviços comunitários e na próxima a carteira de motorista será suspensa, etc. O policial não para o motorista para benefício próprio, mas sim do próprio motorista, para que não se envolva em um acidente de trânsito e se machuque. É como a metodologia de Deus: Ele aflige as pessoas com punições pequenas nessa vida terrena para que percebam o erro. Em outras palavras, Deus permite que coisas ruins aconteçam a pessoas boas para puni-las por seus pecados. Essa punição serve como um alerta para que se corrijam nessa vida e, assim, evitem punição na outra vida. Certamente um motorista preferirá ser multado em R$ 50,00 a ser preso. Um crente também preferirá ser punido nessa vida a ser jogado no inferno na próxima vida.
O que significa é que quando um crente é afligido com algum tipo de calamidade, deve se sentir confortado com o fato de que seus pecados estão sendo perdoados por Deus. Deve saber que Deus o compensará por todos os seus infortúnios e queixas e que Deus é o mais justo! O profeta Muhammad nos contou que Deus compensará Seus servos até pelo ferimento pequeno causado por um espinho. Um crente passando por momentos difíceis não deve nunca ser ingrato com Deus, nem questionar a justiça de Deus, porque Deus compensará a todos na próxima vida. Essa é a promessa de Deus para a humanidade. Um crente que é afligido por testes e tribulações deve se conscientizar que é um dos escolhidos de Deus, a quem Deus ama o suficiente não para punir no inferno, mas a quem Ele deseja purifica nessa vida.