- Por Ali Al-Timimi
- Descrição: Tirado de uma palestra na McGill University no Canadá sobre como o Islã elevou a condição das mulheres. Parte 1: Explicação da diferença fundamental nas visões do mundo entre o Ocidente e o Islã em relação à mulher e um vislumbre das visões grega e cristã primitiva sobre as mulheres.
O Islã elevou a condição das mulheres. Muitos, ao ouvirem isso, podem supor que é um oxímoro porque a idéia prevalente – pelo menos no ocidente – é que o Islã não eleva a condição das mulheres e sim que o Islã oprime e reprime as mulheres. Em relação a isso, deve ser dito que hoje existem basicamente duas visões de mundo. Essas duas visões estão com frequência em conflito – não somente a nível pessoal em que os seres humanos fazem escolhas, mas também a nível internacional em termos do debate sobre a autenticidade e correção dessas duas visões de mundo.
A primeira visão de mundo é a visão liberal ocidental. Uma visão que alega extrair suas raízes da tradição judaico-cristã que provavelmente, sob investigação, é mais enraizada nas idéias que apareceram após a Reforma; idéias que estão enraizadas em secularismo e na visão de mundo que apareceu depois disso durante a “era do iluminismo”.
A segunda visão é a dos muçulmanos – a visão islâmica de mundo e essa visão diz que suas raízes e idéias repousam na revelação dada por Deus (ou Allah, em árabe) ao profeta Muhammad, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele. Aqueles que proclamam essa visão dizem que pode ser usada pela humanidade durante todas as eras e tempos e que sua relevância e benefício não estão restritos a certo período de tempo, área geográfica ou certa raça de seres humanos. Da mesma forma, os aderentes da primeira visão, do secularismo ocidental e tradição liberal, acreditam que sua visão de mundo, idéias, cultura e civilização são o melhor para a humanidade. Um autor americano de ascendência japonesa (Francis Fukuyama) escreveu um livro intitulado “O Fim dos Tempos”. Nesse livro ele basicamente apresenta a teoria de que o desenvolvimento humano em termos de suas idéias concluiu seu período final de pensamento secular liberal e nada mais virá para a humanidade. Entretanto, em seu livro ele acrescenta que a única parte do mundo que não adotou essa visão humana secular foi o mundo islâmico e propõe que existirá um conflito em termos dessa ideologia no mundo islâmico.
Com essa breve introdução, um dos tópicos de contenção entre essas duas visões de mundo, a visão liberal secular no Ocidente e a tradição islâmica, se refere às mulheres. Qual é a posição e condição das mulheres? Como as mulheres são vistas? As mulheres são elevadas em uma cultura e oprimidas em outra?
A visão ocidental é que as mulheres são elevadas somente no Ocidente e que estão conseguindo cada vez mais direitos com o passar do tempo, enquanto suas irmãs – dizem – no mundo islâmico continuam a ser reprimidas. Os muçulmanos que encontram dizem que de fato é o sistema islâmico que fornece liberdade verdadeira para homens e mulheres, e as mulheres no Ocidente, assim como os homens, são enganados por uma idéia de liberdade que realmente não existe.
Como as mulheres são vistas no Islã não pode ser adequadamente compreendido – e isso é mais significativo, sinto – a menos que se entenda exatamente o que podemos chamar de base filosófica ou entendimento ideológico – uma vez que isso é de fato um conceito teológico.
Primeiro, vamos rever como exatamente as mulheres eram vistas e entendidas na tradição ocidental, para comparar e contrastar perspectivas. Sabemos que a tradição ocidental se vê como herdeiros intelectuais da tradição grega que existiu antes do profeta Jesus Cristo, que a paz esteja sobre ele, e que consequentemente muitas das tradições intelectuais do Ocidente são encontradas em algum nível nos escritos dos primeiros filósofos gregos como Aristóteles, Platão, etc.
Como eles viam as mulheres? Quais eram as idéias de Aristóteles e Platão em relação às mulheres? Quando se analisa os trabalhos desses primeiros filósofos gregos, encontra-se que tinham visões muito disparatadas das mulheres. Aristóteles em seus escritos argumentava que as mulheres não eram seres humanos plenos e que a natureza da mulher não era a de uma pessoa completa. Como resultado, as mulheres eram deficientes por natureza, não confiáveis e deviam ser menosprezadas. De fato, escritos descrevem que as mulheres livres em muitos aspectos da sociedade grega – exceto por pouquíssimas mulheres da elite – tinham posições que não eram melhores que as de animais e escravos.
Essa visão aristotélica das mulheres foi posteriormente transferida para a tradição cristã primitiva da igreja católica. São Tomás de Aquino em seus escritos propôs que as mulheres eram a armadilha de Satanás. A questão de Adão e Eva acrescentou uma dimensão às primeiras idéias gregas de Aristóteles; as mulheres forma a causa da queda do homem e, portanto, eram armadilha de Satanás e deviam ser vistas com cautela e enfado por terem causado a primeira queda da humanidade e todo o mal vem das mulheres. Esse tipo de pensamento foi persistente dentro dos escritos dos patriarcas da Igreja ao longo da Idade Média. Em seus escritos encontramos esse tema proposto em um aspecto ou outro. Entretanto, após a reforma protestante a Europa decidiu se livrar dos grilhões da Igreja Católica. Idéias que tinham sido intituladas como Era do Iluminismo ou pensadas como tal, fizeram com que sentissem que precisavam se libertar de muitas dessas idéias. Algumas dessas idéias eram de natureza científica, como a de que a terra gira em torno do sol, em vez de o sol girar em torno da terra; natureza teológica, como os escritos de Martim Lutero; e também de natureza social, como a posição das mulheres na sociedade. Entretanto, os escritores do Iluminismo continuavam tratando desse tema básico sem muitas mudanças – as mulheres não eram seres humanos plenos. Escritores franceses durante a revolução, como Rousseau, Voltaire e outros, viam as mulheres como um fardo dos quais se precisava cuidar. Devido a isso, Rousseau em seu livro “Emile” propôs uma forma diferente de educação para as mulheres, com base no fato de que as mulheres eram incapazes de compreender as mesmas coisas que os homens.