Bilal Ibn Rabah (parte 1 de 2): Da escravidão à liberdade

Por Aisha Stacey (© 2014 IslamReligion.com)

Descrição: Em face da tortura um homem se apega à sua nova religião.

“Estava presente… quando Mohammad, o mensageiro de Deus, caminhava na terra. Ouvi o que ele disse e vi o que ele disse…” Assim começa um livro baseado na vida de um dos companheiros mais próximos do profeta Muhammad – Bilal Ibn Rabah.

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Bilal era um escravo negro, quase certamente o filho de escravos, e acredita-se que era da Abissínia (agora conhecida como Etiópia).  Nascido em servidão, provavelmente nunca esperou que a vida lhe oferecesse mais do que trabalho duro e dor.  Entretanto, Bilal andou pela terra em uma época muito importante.  Era um escravo na cidade de Meca quando um homem iletrado começou a chamar as pessoas para adorar o Deus Único.  Esse homem era Muhammad, o Mensageiro de Deus, que Deus o louve, e sua mensagem era para toda a humanidade. 

Quando uma pessoa é pobre ou destituída, faminta ou tem medo, ou tem marcas de espancamento e destruído, uma mensagem imbuída com os conceitos de misericórdia, perdão e justiça é muito atraente.  Os destituídos eram exatamente o tipo de pessoas que corriam para o lado do profeta Muhammad, ansiosos por conforto em suas palavras e atos.  Bilal, possivelmente o primeiro africano a se converter ao Islã, aceitou a mensagem de todo o coração.  A vida para Bilal era fazer valer a pena algo importante.  Como um homem se afogando que se agarra a uma corda que o levará para a segurança, Bilal se agarrou às palavras do Deus Único e elas foram essenciais para salvar sua vida.

Bilal ouvia a mensagem de Muhammad, que Deus é Único, o Todo-Poderoso, Misericordioso, mas também ouvia as palavras de seu dono.  Umayya ibn Khalaf, um mecano rico, estava preocupado que seu sustento baseado na idolatria seria prejudicado pela mensagem de Muhammad.  Falou com outros que também estavam preocupados com as mudanças no cenário político e religioso de Meca, dizendo: “Muhammad nunca foi um mentiroso, mágico ou louco, mas temos que descrevê-lo dessa forma até que afastemos dele aqueles que correm para sua religião.”

De acordo com o biógrafo Ibn Ishaq e outros[1], Bilal sofreu terrivelmente por sua aceitação imediata da mensagem de Muhammad.  Conta-se que lhe batiam sem misericórdia, arrastado pelas ruas e vales de Meca pelo pescoço e sujeito a longos períodos sem comida ou água.  Relata-se que seu dono Umayya ibn Khalaf “na parte mais quente do dia o deitou de costas no chão do vale, colocou uma grande pedra sobre seu peito e disse ‘ficará aí até que morra ou negue Muhammad e adore al-Lat e al-’Uzza’”[2].  Bilal não renunciou ao Islã e no meio de seu sofrimento pronunciou uma única palavra – Ahad (significando Deus Único) [3]

Notícias do escravo que clamou que “Deus é Único!” mesmo no meio de tortura logo alcançou o profeta Muhammad e seus companheiros.  Abu Bakr, o amigo mais próximo do profeta Muhammad e um negociante rico de status equivalente ao de Umaya, foi enviado para investigar.   Chegou ao vale onde Bilal estava sendo torturado para diversão. Abu Bakr não perdeu sua paciência, porque não era o seu comportamento, mas argumentou com os torturadores.  Disse para Umaya: “Não teme a Deus pelo tratamento dado a esse pobre homem?”  Ele respondeu dizendo: “Você é um dos que o corromperam, então o salve desse sofrimento!” Abu Bakr respondeu: “Então o venda para mim. Diga seu preço.” Umaya era um homem de negócios e não podia abrir mão de um lucro. Então vendeu Bilal por um bom preço. Para humilhar Bilal, acrescentou: “Eu o teria vendido a você mesmo que me oferecesse somente uma onça de ouro.”  Abu Bakr respondeu: “Eu o teria comprado de você mesmo que tivesse pedido cem onças.”

Bilal recebeu cuidados e recuperou a saúde.  Quando se recuperou foi levado ao profeta Muhammad e ficou do seu lado dando apoio e chamando outros para o Islã. Na época do profeta Muhammad a escravidão era uma instituição enraizada em todo o mundo.  As leis do Islã buscaram emancipar os escravos. Deus menciona no Alcorão que a expiação para muitos pecados é libertar um escravo e é considerado um ato de piedade.

Bilal amava estar na companhia do profeta Muhammad e se tornou excepcionalmente próximo dele.  Várias tradições mencionam que Bilal tinha a honra de acordar o profeta todas as manhãs e de passar o maior tempo possível em sua companhia.  A história de Bilal geralmente é usada para demonstrar a importância do pluralismo e da igualdade racial no Islã.  O mais importante é um exemplo de a virtude ser a medida de um homem, ao invés de raça, etnia ou status social. 

Em parte 2 aprenderemos mais sobre Bilal, a migração muçulmana para Medina e a grande honra concedida a Bilal, o escravo liberto da Abissínia.


Notas de rodapé:

[1] Ibn Hisham & Talqih Fuham Alil Athar p61.

[2]Idolatria pelo povo de Meca.

[3]A palavra árabe Ahad é usada no lugar da palavra em português um ou da palavra árabe wahad por causa de seu significado – não apenas o número, mas Deus Único.

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