A Carta do Profeta ao Imperador de Bizâncio (parte 2 de 3): A Recepção

Por Jeremy Boulter (© 2012 IslamReligion.com)

Descrição: Os portentos e notícias do profeta do Islã que foi a Heráclito e sua verificação das credenciais do autor da carta.

Heráclito Recebe Notícias de Muhammad

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Ibn al-Natur era o governador de Jerusalém para Heráclito, que era o chefe dos cristãos da Grande Síria.  Ibn al-Natur narra que, uma vez, enquanto estava em Jerusalém:

Heráclito levantou de mau humor e alguns dos sacerdotes lhe perguntaram por que.

Por praticar astrologia, Heráclito tinha tentado mapear o futuro.

Em resposta a essa pergunta, ele disse: “Noite passada estava procurando nas estrelas e vi que um líder daqueles que praticam circuncisão tinha surgido (e conquistaria todos à sua frente). Quem são os que praticam circuncisão?”

Os sacerdotes responderam: “Exceto os judeus ninguém pratica circuncisão e não precisa temê-los; apenas emita ordens para matar todo judeu presente no país.”

Enquanto discutiam sobre isso, chegou um mensageiro enviado pelo rei de Ghassan[1] para transmitir notícias do mensageiro de Deus a Heráclito.

(Essas notícias podem ser a carta do profeta).

Ao ouvir as notícias, Heráclito ordenou ao sacerdote que verificasse se o mensageiro de Ghassan era circuncisado.  Depois de ser fisicamente examinado, relataram que o homem era circuncisado.  Heráclito então perguntou ao mensageiro sobre o costume dos árabes.  O mensageiro respondeu: “Os árabes também praticam circuncisão.”

Quando ouviu isso, Heráclito disse: “O reino dos árabes começou e seu reinado está prestes a se manifestar.” [2]

A história a seguir é tirada das narrativas dos companheiros do profeta.  A história foi contada por Abu Sufyan a Abdullah Ibn Abbas, que a relatou aos outros.[3] Ibn Abbas era um aluno muito devotado a Muhammad, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, e um sábio muito respeitado do Alcorão.

O Encontro de Abu Sufyan com Heráclito

Em 629 EC, três anos antes da morte do mensageiro de Deus, Heráclito reconquistou Jerusalém de forma triunfante carregando o que se dizia ser a cruz original venerada pelos cristãos e que Khosrau II tinha pegado como botim 15 anos antes.[4] Enquanto residiu lá a carta que Muhammad tinha enviado, talvez um ano antes, chegou às suas mãos.  Quando a leu, perguntou se havia alguém do povo do autor no território que controlava e lhe contaram sobre a caravana de negócios de Abu Sufyan, de Meca, que fazia negócios nas proximidades.  Ele, com seus companheiros, foram convocados para a corte do imperador em Jerusalém, se apresentando a Heráclito que tinha os nobres bizantinos ao redor dele.

As Perguntas Apresentadas por Heráclito e Suas Respostas

Heráclito chamou seu intérprete para que os questionasse, ordenando-o que perguntasse quem entre eles era o mais próximo, em termos de parentesco, do homem que reivindicava ser um profeta.

Abu Sufyan respondeu: “Sou o parente mais próximo dele (nesse grupo).”

Heráclito perguntou: “E qual é a relação entre vocês?”

Abu Sufyan disse: “Ele é meu primo (distante) por parte do meu pai.” [5]

Heráclito disse: “Aproximem-no!” e os companheiros de Abu Sufyan ficaram atrás dele, em seus ombros.  Então ordenou a seu intérprete: “Diga a seus companheiros que vou questioná-lo sobre o homem que alega ser um profeta e se ele disser uma mentira, que a repudiem imediatamente como uma mentira.”

“Como é a linhagem desse homem entre vocês?” continuou o imperador romano.

“De descendência nobre.” Respondeu Abu Sufyan.

Heráclito perguntou ainda: “Algum de vocês alguma vez já reivindicou o mesmo que ele?”“Ele era inclinado à mentira antes de reivindicar o que reivindicou?” “Alguém entre seus ancestrais foi um rei?”

A cada pergunta Abu Sufyan só podia responder “Não”.

“Os nobres de nascimento ou os humildes entre seu povo o ouvem?”

Abu Sufyan respondeu: “Os desprovidos, ao invés dos nobres de nascimento, o seguem.”

Ele disse: “Estão aumentando ou diminuindo em número?”

“Aumentando”, foi a resposta.

Ele então perguntou: “Alguém entre os que abraçaram sua religião se afastaram descontentes ou renunciaram a ela depois de um tempo.”

“Não”.

Heráclito disse: “Ele quebra suas alianças?”

O líder da caravana respondeu: “Não. Temos um tratado com ele agora, mas tememos que possa nos trair.”

O questionamento continuou de forma incansável: “Já se combateram?”

“Sim.”

“Qual foi o resultado das batalhas?”

“Umas vezes ele ganha as batalhas, às vezes nós ganhamos.”

“O que ele os ordena fazer (quando prega)?

“Diz-nos para adorar somente a Deus e não adorar nada junto com Ele e para renunciar a todos os ídolos que nossos ancestrais nos ensinaram a adorar. Ordena-nos a orar, dar caridade, sermos castos, cumprirmos as promessas e desempenharmos nossos compromissos assumidos com amigos e parentes.”

Abu Sufyan admitiu posteriormente que teria mentido sobre o profeta, se não temesse a vergonha de ver seus colegas (que o ouviam) espalharem relatos de que era um mentiroso.  Então respondeu o mais fielmente que pode.  Também mencionou a parte que temia uma traição de Muhammad e daqueles que liderava porque apresentava a melhor oportunidade de deixar escapar um comentário negativo sobre ele.

O Imperador Avalia o Interrogatório

Depois de ter terminado de interrogar Abu Sufyan sobre o profeta, Heráclito decidiu dizer-lhe o que tinha aprendido da entrevista.  Seu intérprete transmitiu sua análise.

Disse: “Perguntei sobre sua linhagem entre vocês e afirmaram que era de linhagem sólida. De fato, todos os mensageiros de Deus vêm de linhagens sólidas entre seus respectivos povos.

“Então perguntei se alguém havia reivindicado o que ele reivindica entre os de sua tribo e sua resposta foi negativa. Se tivesse dito que outros tinham feito essa reivindicação, teria suposto que ele estava seguindo o que tinha sido dito antes dele.

“Perguntei ainda se ele era um mentiroso antes de dizer o que disse e vocês disseram que não. Sei que uma pessoa que não mente sobre outros homens nunca mentiria sobre Deus.

“E perguntei se algum dos ancestrais dele tinha sido um rei. Se sua resposta fosse afirmativa, teria pensado que o homem buscava restaurar o reino de seu ancestral.

“Então perguntou se o nobre de nascimento ou o humilde o seguiam e me disseram que seus seguidores eram principalmente pessoas humildes. De fato, eles invariavelmente são os seguidores de mensageiros.

“Então perguntei se seus seguidores estavam aumentando ou diminuindo e vocês me informaram que estavam aumentando. E assim é com fé verdadeira até que esteja completa.

“Perguntei ainda se alguém que tinha abraçado a religião que ele ensina havia se afastado descontente e a renunciado depois de um tempo. Sua resposta foi negativa, que é o que acontece com a verdadeira fé quando o encanto dela se mistura completamente em seus corações.

“E perguntei se tinham lutado entre si, ao que responderam afirmativamente, acrescentando que as fortunas da guerra às vezes estavam a seu favor e, às vezes, a favor dele. Assim é com todos os mensageiros, mas a vitória final estará com ele.

“Perguntei se era traiçoeiro, e disseram que não. Assim é com todos os mensageiros; nunca agem de forma traiçoeira.

“Então perguntei o que ele lhes prescreve na religião que prega. Afirmaram que ordena que adorem somente Deus e não O associem com coisa alguma e não adorem os ídolos de seus ancestrais. E que prescreve a oração e caridade, castidade, o cumprimento de promessas e desempenho de compromissos assumidos. E essa é a descrição do que um profeta faz.”

Assim o César bizantino reconheceu a missão profética do mensageiro de Deus.

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