Por Dr. Bilal Philips (transcrito por Abu Uthman de uma áudio-conferência)
Descrição: Nesse mundo turbulento, paciência e não fazer desta vida o objetivo supremo são soluções valiosas na solução de obstáculos que estão dentro de nosso controle.
Voltando à história de Moisés e Khidr, depois de cruzarem o rio encontraram uma criança, e Khidr intencionalmente a matou. Moisés perguntou a Khidr como ele podia ter feito tal coisa. A criança era inocente e Khidr simplesmente a matou! Khidr disse a Moisés que a criança tinha pais virtuosos e se a criança tivesse crescido (Deus sabia disso) teria se tornado um terror para seus pais a ponto de levá-los à descrença, e então Deus ordenou a morte da criança.
É claro que os parentes sofreram quando encontraram seu filho morto. Entretanto, Deus substituiu seu filho por outro que era virtuoso e melhor para eles. Essa criança os honrou e foi boa para eles, mas os pais terão um vazio em seus corações devido à perda de seu primeiro filho até o Dia do Juízo, quando se apresentarão perante Deus e Ele lhes revelará a razão pela qual Ele tirou a alma de seu primeiro filho. Então entenderão e louvarão a Deus.
E assim é a natureza de nossas vidas. Existem coisas, coisas que são aparentemente negativas, coisas que acontecem em nossas vidas que parecem ser obstáculos à paz interior porque não as compreendemos ou porque aconteceram conosco, mas temos que colocá-las de lado.
Elas vêm de Deus e temos que acreditar que no final existe um bem por trás delas, independentemente de podermos vê-lo ou não. Então prosseguimos para as coisas que podemos mudar. Primeiro as identificamos, então prosseguimos para o segundo maior passo que é remover os obstáculos desenvolvendo soluções para eles. Para remover os obstáculos devemos focar principalmente em nos modificarmos e isso é porque Deus diz:
“Deus jamais mudará as condições que concedeu a um povo, a menos que este mude o que tem em seu íntimo.” (Alcorão 13:11)
Essa é uma área sobre a qual temos controle. Podemos até desenvolver a paciência, embora a idéia comum seja a de que algumas pessoas já nascem pacientes.
Um homem veio até o Profeta, que Deus eleve seu nome, e perguntou do que precisava para alcançar o Paraíso e o Profeta lhe disse: “Não se zangue.” (Saheeh Al-Bukhari)
O homem era um indivíduo que se zangava facilmente e por isso o Profeta disse ao homem que ele precisava mudar sua natureza. Então, modificar-se é algo atingível.
O Profeta também disse: “Quem quer que finja ser paciente (com um desejo de ser paciente) Deus lhe dará paciência.”
Isso está registrado em Saheeh Al-Bukhari. Isso significa que embora algumas pessoas nasçam pacientes, o resto de nós pode aprender a ser paciente.
É interessante que na psiquiatria e psicologia ocidental costumem nos dizer para extravasarmos, não guardarmos nada porque se o fizermos explodiremos.
Depois descobriram que quando as pessoas extravasavam pequenos vasos sanguíneos se rompiam no cérebro porque elas estavam muito zangadas. Agora viram que é de fato perigoso e potencialmente prejudicial extravasar tudo. Agora dizem que é melhor se controlar.
O Profeta nos disse para tentarmos ser pacientes. Então, externamente devemos passar a imagem de sermos pacientes mesmo quando internamente estamos fervendo. Não tentamos ser pacientes externamente para enganar as pessoas; ao contrário, o fazemos para desenvolver paciência. Se formos consistentes nisso então a imagem externa de paciência também se torna interna e como resultado a paciência completa é alcançada, e ela é atingível, como mencionado no Hadith citado acima.
Entre os métodos existentes está observar como os elementos materiais em nossas vidas desempenham um papel importante em relação à paciência e como a alcançamos.
O Profeta nos deu conselho sobre como lidar com esses elementos ao dizer:
“Não olhe para aqueles que estão acima ou são mais afortunados mas, ao contrário, olhe para aqueles que estão abaixo ou são menos afortunados…”
Isso é porque independentemente de nossa situação, existem sempre aqueles que estão piores que nós. Essa deve ser nossa estratégia geral com relação à vida material. Hoje em dia a vida material é uma parte importante de nossa vida, parecemos obcecados com isso; ganhar tudo que pudermos nesse mundo parece ser o ponto principal no qual a maioria de nós foca as energias. Então, se alguém deve fazer isso que faça sem afetar sua paz interior.
Ao lidar com o mundo material não devemos manter o foco naqueles que estão melhores que nós ou nunca nos satisfaremos com o que temos. O Profeta disse:
“Se der ao filho de Adão um vale de ouro, ele vai querer outro.” (Saheeh Muslim)
O dito é que a grama do vizinho é sempre mais verde; e quanto mais uma pessoa tem, mais ela quer. Não podemos nos satisfazer no mundo material se o estivermos perseguindo dessa forma; ao contrário, devemos olhar para os menos afortunados e dessa forma lembraremos as dádivas, benefícios e misericórdia que Deus nos concedeu com relação à nossa própria fortuna, não importando o quão pequena ela possa parecer.
Existe outro dito do Profeta Muhammad que nos ajuda no campo do mundo material a colocar nossos assuntos na perspectiva correta e é um exemplo profético do princípio de “as primeiras coisas primeiro” de Stephen Covey[1]. O Profeta afirmou esse princípio há mais de 1.400 anos e o estabeleceu para os crentes ao dizer:
“Quem fizer desse mundo seu objetivo Deus confundirá seus assuntos e colocará a pobreza diante de seus olhos, e ele não será capaz de alcançar nada nesse mundo exceto o que Deus já tiver escrito para ele…” (Ibn Maajah, Ibn Hibbaan)
Assim os assuntos da pessoa não se organizarão. Ela irá a todas as direções, como uma galinha com a cabeça cortada, andando a esmo; se fizer desse mundo seu objetivo. Deus colocará a pobreza diante de seus olhos e independentemente de quanto dinheiro tiver, se sentirá pobre. Toda vez que alguém for gentil ou sorrir, pensará que estão fazendo isso porque querem seu dinheiro, não confiará em ninguém e não será feliz.
Quando a bolsa de valores quebra se lê que alguns investidores cometeram suicídio. Uma pessoa pode ter tido 8 milhões e perdido 5 milhões, ficando com 3 milhões depois da quebra da bolsa, mas perder aqueles 5 milhões parece o fim. Não vê sentido em viver depois disso, porque Deus colocou a pobreza diante de seus olhos.