- Por Jamaal al-Din Zarabozo (IslamReligion.com)
Descrição: Uma das qualidades singulares do Alcorão é sua preservação detalhada, um fato que o faz muito diferente de todas as outras religiões.
Eu estava dolorosamente consciente de muito da história da Bíblia e esse era um dos problemas principais que eu tinha com o Cristianismo. Eu perguntei a pastores sobre essa questão e a maioria deles na época, isso foi antes dos fundamentalistas se tornarem predominantes, foram muito abertos sobre isso e admitiram que havia problemas com a autenticidade histórica da Bíblia. Ao mesmo tempo, entretanto, a maioria deles proclamava que os “ensinamentos” tinham sido preservados embora os detalhes possam não ter sido. Em outras palavras, a Bíblia claramente não era a palavra de Deus; eles alegavam que os escritores bíblicos foram “inspirados” por Deus. Isso é o máximo que podiam alegar, embora até isso eles não pudessem provar. Isso me parecia uma fé cega porque se você não sabe se os detalhes foram preservados, como pode estar tão certo de que os ensinamentos principais foram realmente preservados? Na realidade, nós não sabemos quem eram Mateus, Marcos, Lucas e João e nem por que exatamente seus nomes foram atrelados àqueles famosos Evangelhos.
À luz disso, eu encontrei Jeffrey, enquanto ele tentava provar que havia algumas dificuldades menores com o Alcorão, demonstrando que a compilação do Alcorão desde os seus anos iniciais era conhecida em detalhes, já que a maior parte de seu trabalho se relacionava com a época dos Companheiros do Profeta. Eu estava muito impressionado e seu suposto ataque ao Alcorão simplesmente, como eu já aludi antes, me fez continuar em meu estudo do Alcorão. (Claro, muito depois eu li respostas aos argumentos de Jeffrey, refutando totalmente suas alegações de que o Alcorão não havia sido preservado.)
A Promessa do Alcorão de que Seria Preservado
Em qualquer caso, chamou a minha atenção o que o Alcorão diz dele mesmo:
“Nós revelamos a Mensagem e Somos seu preservador.” (Alcorão 15:9)
Era interessante para mim porque dentro do Alcorão existe uma referência clara a como os povos anteriores fracassaram em preservar completamente a mensagem que receberam. Portanto, à luz do que o Alcorão estava dizendo sobre as revelações anteriores, era uma afirmação muito audaciosa. E, incidentalmente, pode ser considerada uma das profecias do Alcorão – vindo de uma perspectiva judaico-cristã, profecias eram importantes para mim. Se elas não acontecessem seriam muito prejudiciais aos meus olhos, ao passo que se acontecessem eu consideraria um bom sinal.
Mais uma vez, a história do Islã apresenta um cenário diferente das revelações anteriores. O Profeta Muhammad, que Deus o exalte, viveu há apenas 1.400 anos. Ele é definitivamente o mais “histórico” dos vários profetas. Portanto, a história do Alcorão é conhecida e documentada.
O Alcorão foi preservado com cuidado meticuloso. Ele se descreve como uma “leitura” (Alcorão) e como um livro (kitaab). De fato, foi através de ambos os meios que o Alcorão foi meticulosamente preservado.
Durante a vida do Profeta, o Profeta tinha escribas específicos cujo trabalho era registrar a revelação quando ele a recebia. O Alcorão não foi revelado de uma única vez. Foi registrado por um período de vinte e três anos. Durante aquela época, a revelação podia vir ao Profeta a qualquer momento. Quando ela vinha, era reconhecida pelos sinais físicos sobre o Profeta (um ponto que levou alguns a alegarem que ele simplesmente era epilético). Ele então chamava seus escribas e dizia a eles o que havia sido revelado e exatamente onde a nova passagem se encaixava em relação ao que já havia sido revelado por Deus.
O Alcorão, que não é um livro grande, também foi preservado na memória assim como na forma escrita desde a época do Profeta Muhammad. Muitos dos Companheiros do Profeta tinham memorizado o Alcorão inteiro e, temendo o que havia acontecido com as comunidades das religiões anteriores, eles adotaram as medidas necessárias para protegê-lo de qualquer forma de adulteração. O Alcorão continua a ser memorizado hoje – outro aspecto surpreendente do Alcorão. De fato, Deus diz sobre o Alcorão:
“Em verdade, fizemos o Alcorão fácil de compreender e lembrar…” (Alcorão 54:17)
Até hoje, milhares de muçulmanos sabem o Alcorão de cor. Se Fahrenheit 451de Ray Bradbury se tornasse uma realidade hoje e todos os livros fossem reduzidos a cinzas, o Alcorão sobreviveria. Os muçulmanos seriam capazes de reescrever todo o Alcorão de memória.
Logo após a morte do Profeta o Alcorão foi todo compilado e pouco depois cópias oficiais foram enviadas a terras distantes, para assegurar que o texto ficasse puro. Até hoje, pode-se viajar para qualquer parte do mundo, pegar uma cópia do Alcorão e constatar que ela é a mesma em todo o mundo.
Até o idioma do Alcorão, que é essencial para manter o entendimento verdadeiro do texto, foi preservado. O mesmo não pode ser dito dos profetas anteriores como Moisés e Jesus, cujos hebraico e aramaico não existem mais.
Como mencionado anteriormente, todo cuidado foi tomado para assegurar que qualquer coisa que não pertencesse à revelação direta de Deus – inclusive as próprias afirmações do Profeta – fosse mantida fora do Alcorão. Apenas as palavras que o Profeta recebeu como revelação e informou a seus seguidores fizeram parte do Alcorão. Conseqüentemente, o Alcorão é completamente diferente da Bíblia, que inclui histórias sobre os profetas, comentários sobre suas vidas e ensinamentos, cartas e escritos de não-profetas e assim por diante. Nenhuma interpolação e adição humana pode ser encontrada no Alcorão.
Assim, o Alcorão originalmente me impressionou de duas formas: primeiro, claramente se proclamou ser a palavra de Deus que não estava entrelaçada com palavras de humanos. Segundo, foi minuciosamente preservado desde a época de sua revelação. Esses dois pontos significavam que o Alcorão atendia meus parâmetros lógicos para religião e revelação. Eu estava pronto para prosseguir em meus estudos e analisar seus ensinamentos.
A propósito, pode-se com toda razão perguntar por que Deus permitiu que suas revelações anteriores fossem distorcidas e não preservadas. Pode-se de fato pensar sobre muitas razões importantes por trás disso. Primeiro, como está claro em suas próprias escrituras, os profetas anteriores, como Moisés e Jesus, não foram enviados para toda a humanidade. Suas mensagens eram claramente para a Tribo de Israel e para suas épocas em particular. De fato, Deus nos ensina que todos os povos tiveram um mensageiro que lhes foi enviado e cujos propósitos eram limitados. O Profeta Muhammad e, conseqüentemente, sua revelação, é para toda a humanidade desde a sua época até o Dia do Juízo. Segundo, se suas revelações fossem preservadas, seus seguidores poderiam usar isso como justificativa para continuarem a seguir seus profetas e se recusarem a seguir o Profeta Muhammad. Uma vez que está muito claro através de muitos meios, como evidência histórica, declarações contraditórias dentro do texto e assim por diante, que suas escrituras não foram preservadas em seus detalhes e que eles não podem alegar seguir o que é a religião pura de Deus – sem mistura com interpolação humana – eles não têm justificativa válida para não abandonarem suas revelações não-preservadas por uma revelação verdadeira, completa e exata de Deus encontrada no Alcorão.