- Por Aisha Stacey (© 2016 IslamReligion.com)
Descrição: A diferença entre milagres, karamahs e mágica.
O Islã define um milagre como um ato ou evento extraordinário que é contrário às leis da natureza e só pode ocorrer por meio de intervenção direta do próprio Deus Todo-Poderoso. A palavra árabe para milagre é mu’jizah. Deriva da palavra ajz, que significa algo que incapacita, algo a que não se pode resistir, único. De acordo com o Islã, os milagres são realizados pela permissão de Deus, pelos profetas de Deus. Os milagres não são mágica, que por definição é um truque ou ilusão, nem é um milagre um evento provocado por uma pessoa sábia e virtuosa que não é um dos profetas de Deus. Esses eventos são chamados karamahs. Dessa forma, encontramos três categorias distintas: milagres, karamahs e mágica.
Deus enviou os profetas e mensageiros primariamente para orientar a humanidade. Eram humanos, de caráter excelente, virtuoso e confiável, para que as pessoas pudessem seguir e se espelhar. Não eram deuses, semideuses ou santos com qualidades divinas, mas mortais encarregados de uma tarefa difícil. Possuíam características excepcionais porque eram obrigados a enfrentar testes e tribulações extraordinários para propagar a mensagem de adorar somente a Deus.
“E não criei a Humanidade e os Jinns[1] exceto para Me adorarem.” (Alcorão 51:56)
Para que todos os profetas fossem críveis em sua época em particular, Deus lhes concedeu milagres pertinentes e compreensíveis para o povo para o qual foram enviados. No tempo de Moisés a mágica e a feitiçaria eram predominantes e, portanto, os milagres de Moisés apelavam às pessoas para as quais ele foi enviado. Na época de Muhammad, os árabes, embora predominantemente iletrados, eram mestres da palavra falada. Sua poesia e prosa eram consideradas notáveis e um modelo de excelência literária e o milagre do profeta Muhammad, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, era dessa natureza e muito mais. O milagre que definia o profeta Salomão era seu reino único. Na época de Jesus os israelitas tinham muito conhecimento no campo da medicina. Consequentemente, os milagres que Jesus realizou eram dessa natureza e incluíam devolver a visão ao cego, curar leprosos e ressuscitar os mortos.
“E curaste o cego e o leproso, com Minha permissão. De quando, com o Minha permissão, ressuscitaste os mortos.” (Alcorão 5:110)
Um karamah é um assunto ou evento extraordinário que é provocado pelas mãos de um crente que obedece a Deus, se abstém de pecado e cuja piedade está em um alto nível aos olhos de Deus. Ao contrário do milagre, que era para ser feito publicamente para que as pessoas reconhecessem a verdade do profeta, um karamah geralmente só beneficia aquele que o recebe. Um karamah pode incluir algumas coisas como conhecimento, poder ou algo surpreendente como o karamah que foi concedido a Usayd ibn al-Hudayr, um dos companheiros do profeta Muhammad. Um grupo de anjos em uma nuvem de luz forneceu sombra a Usayd quando ele recitou o Alcorão[2]. Também aconteceu um karamah para Mariam, a mãe do profeta Jesus.
“Seu Senhor a aceitou benevolentemente e a educou esmeradamente, confiando-a a Zacarias. Cada vem que Zacarias a visitava, no oratório, encontrava-a provida de alimentos, e lhe perguntava: Ó Maria, de onde te vem isso? Ela respondia: De Deus!, porque Deus agracia imensuravelmente quem Lhe apraz.” (Alcorão 3:37)
Um milagre só resulta no bem e é concedido pelo Todo-Poderoso aos profetas como sinal de suas veracidades. Isso é associado com uma vida de moral e caráter exemplares e uma mensagem de bondade.
A mágica também pode trazer algo extraordinário, mas nenhum bem pode vir da mágica. É realizada por pessoas más, feita com a aproximação de demônios e ajuda deles[3]. Os milagres não podem ser aprendidos ou desfeitos, enquanto que a mágica pode ser aprendida, cancelada ou desfeita.
O encontro do profeta Moisés com mágicos na corte do Faraó explica a diferença entre mágica e milagres.
Eles disseram: “Ó Moisés!Lançarás tu, ou então seremos nós os primeiros a lançar?” Respondeu Moisés:”Lançai vós”! E quando lançaram (seus cajados), fascinaram os olhos das pessoas, espantando-as, e deram provas de uma magia extraordinária. Então, inspiramos Moisés: Lança o teu cajado! Eis que este devorou tudo quanto haviam simulado. E a verdade prevaleceu, e se esvaneceu tudo o que haviam fingido. (O Faraó e os chefes) foram vencidos, e foram humilhados. E os magos caíram prostrados.(Alcorão: 7:115-120)
Os mágicos compreenderam que Moisés não estava realizando um truque ou ilusão como eles tinham feito. Entendiam engodo muito bem e sabiam que as ações de Moisés eram um milagre. Assim, aceitaram a verdade e se prostraram para Deus, sabendo muito bem que isso os levaria à morte por desobedecerem ao Faraó.
Os milagres podem ser de dois tipos: aqueles que ocorrem a pedido das pessoas que querem um sinal da veracidade do profeta que lhes foi enviado e o segundo tipo, que ocorre sem ser solicitado. Um exemplo do primeiro tipo foi quando o povo do profeta Saleh pediu que ele tirasse de detrás da montanha uma camela e sua cria. Da mesma forma, quando os descrentes em Meca pediram ao profeta Muhammad que lhes mostrasse um milagre, ele lhes mostrou a divisão da lua. Um dos companheiros do profeta Muhammad mencionou esse evento dizendo: “Estávamos com o mensageiro de Deus em Mina, quando a lua foi dividida em duas partes. Uma parte ficou detrás da montanha e a outra ficou nesse lado da montanha. O mensageiro de Deus nos disse: “Testemunhem isso”[4].
Um exemplo do segundo tipo foi o que aconteceu quando o tronco de árvore chorava e sentia falta do profeta Muhammad. Ele, o profeta, costumava fazer seu sermão de sexta-feira enquanto se apoiava em uma palmeira. Um de seus seguidores sugeriu que fizessem um púlpito para ele e o fizeram. Na sexta-feira seguinte, quando o profeta ficou de pé no púlpito, o tronco de árvore começou a se lamuriar como uma criança.
Os muçulmanos acreditam que o Alcorão em si é um milagre. O profeta Muhammad disse: “A todo profeta foram concedidos milagres com base no que as pessoas acreditavam, mas a mim foi concedida a revelação divina que Allah me revelou e espero que meus seguidores ultrapassarão em número os seguidores de outros profetas no Dia da Ressurreição.”[5]O profeta Muhammad estava querendo dizer que o próprio Alcorão é o maior milagre de todos os tempos. É um livro milagroso cheio de milagres de todos os tipos. Sua revelação, excelência literária e seu conteúdo, incluindo informação científica, profética e histórica, todos contribuem para o status do Alcorão como um milagre.