RITOS FUNERÁRIOS NO ISLÃ (PARTE 1 DE 3): TODA A ALMA PROVARÁ O SABOR DA MORTE

  • Por Aisha Stacey (© 2014 IslamReligion.com)
  • Descrição: Preparação para a morte.

  • Funeral-Rites-in-Islam-(par.jpgNesse ainda brilhante e reluzente século 21 muitos de nós esquecemos da morte.  É uma estranha assustadora.  Uma sobre a qual não ousamos pensar por medo de que chegue pelas costas e nos leve da única vida que conhecemos.  No passado, entretanto, a morte era uma amiga sempre presente.  As pessoas nasciam e morriam em casa, cercadas pela família ou amigos e a morte era aceita como uma parte inevitável da vida.  A morte se tornou uma estranha confinada aos mortuários de hospitais frios e quietos e a funerárias.  Os direitos dos agonizantes e mortos não são mais de grande importância.

    A morte chegará para cada um de nós.  O Profeta Muhammad, que Deus o exalte, disse: “Lembrem-se sempre da destruidora de prazeres (ou seja, morte)”.[1] A religião do Islã não esqueceu da morte, nem dos direitos dos que estão morrendo.  O Islã nos fornece um conjunto completo de instruções para aquele que está morrendo, os que estão presentes na hora da morte e os responsáveis pelo enterro do morto.

    “Toda a alma provará o sabor da morte.” (Alcorão 3:185)

    Como devem se comportar os que estão enfrentando a morte

    A morte é inevitável, mas existem certas coisas que um crente pode fazer para se preparar para sua partida para a vida eterna.

    A primeira é permanecer paciente em face de um evento sobre o qual não temos controle, e os doentes ou feridos devem evitar acusar ou amaldiçoar Deus por suas desgraças.  Existem muitos ditos e tradições autênticas do profeta Muhammad que explicam como e por que a doença e os ferimentos expiam pecados e más ações.  Nesse site você encontrará artigos que detalham os benefícios da paciência e aceitação da vontade de Deus[2]. O Profeta Muhammad disse:

    “Como é maravilhoso o assunto do crente, porque seus assuntos são todos bons. Se algo de bom lhe acontece, é agradecido e isso é bom para ele. Se algo de mau lhe acontece, suporta com paciência e isso é bom para ele.”

    Ao enfrentar qualquer grau de dor e sofrimento não é permitido reclamar e lamuriar-se sobre o decreto de Deus.  Entretanto, o Islã nos diz que é permissível clamar diretamente a Deus e colocar diante Dele todos os nossos medos, dores e sofrimento.  O profeta Jacó clamou a Deus quando temeu a perda de seus amados filhos, José e Benjamim.

    “Só exponho perante Deus o meu pesar e a minha angústia…” (Alcorão 12:86)

    Saber que apenas Deus tem o controle sobre nossas vidas significa que um crente é capaz de oscilar entre os estados de medo e esperança.  Temeroso devido à natureza e número de pecados que adquiriu, mas esperançoso que Deus o perdoará e proverá proteção contra tudo que teme.  Um crente em face da morte coloca sua confiança em Deus, sabendo que o decreto de Deus é sem dúvida um teste, mas uma decisão justa.

     Antes que a morte o consuma, um crente deve se assegurar que seus assuntos estão em ordem.  Deve fazer seu testamento e tentar acertar quaisquer débitos.  O profeta Muhammad comentou sobre ambos os assuntos.  É dever de um muçulmano que tem algo a legar não deixar que duas noites se passem sem escrever um testamento.[3] A alma de um crente permanece em suspenso até que todos os seus débitos sejam pagos.[4]

    Como deve se comportar quem lida com uma pessoa que está morrendo

    A pessoa doente deve ser lembrada de maneira gentil que mesmo a doença tem um lado positivo.  É expiação de negligência ou erro anterior e é uma fonte de grande recompensa para quem confia em Deus e suporta a provação com paciência.  Ao visitar uma pessoa doente ou à morte um crente deve orar e fazer súplicas.  De acordo com a amada esposa do profeta, Aisha, que Deus esteja satisfeito com ela, sempre que ele visitava uma pessoa doente costumava orar usando as seguintes palavras:

    Senhor do universo, remova a aflição desse paciente por somente Tu podes ser o curador, ninguém pode curar exceto através de Ti: cure-o tão completamente que a aflição seja removida completamente.[5]

     Se um crente visita um paciente não-muçulmano, deve buscar ajuda de Deus e convidar o paciente a aceitar o Islã.

    Uma das coisas mais importantes para lembrar sobre um crente doente ou ferido é que os anjos estão ao seu redor.  As palavras faladas à beira da cama devem ser palavras gentis e carinhosas, cheias de súplicas porque os anjos reunidos respondem dizendo “Amém” (significa: Ó Deus, responda) a tudo que é dito.  Também se deve perguntar ao paciente o que ele deseja e o crente deve fazer o máximo para atender.  Talvez seja comida ou bebida, enviar uma mensagem ou ver um membro da família ou amigo específicos.

    Quando a morte se torna inevitável

    Uma pessoa à morte vê o que não vemos.  Pode oscilar entre a consciência e a inconsciência.  Pode ficar muito fraca e ouvir, mas ser incapaz de responder.  Isso é conhecido como a “batalha da morte” e é cheia de agonias que não podemos imaginar.  Quando Aisha falou sobre a morte do profeta Muhammad, ela disse: “Na hora de sua morte, ele (profeta Muhammad) mergulhou a mão em um recipiente com água e molhou seu rosto, dizendo: ‘Não há verdadeira divindade, exceto Deus! Em verdade, a morte é cheia de agonias’.”

    Existem muitas coisas que podem ser feitas para aliviar a mente de uma pessoa que está morrendo e ajudá-la a lidar com as agonias.  Se não causar qualquer desconforto, devemos colocá-la voltada para a qibla, sobre seu lado direito ou de costas.  Pode ser encorajada, muito gentilmente e sem qualquer insistência a dizer as palavras: “Não há verdadeira divindade, exceto Deus.” Se possível, essas devem ser suas últimas palavras antes de morrer.  Uma pessoa à morte não deve nunca ser deixada sozinha e umedecer seus lábios ou colocar algumas gotas de água em sua boca pode aliviar o sofrimento de algum modo.

    Na parte 2 discutiremos o que fazer após a morte e o funeral.

     


    NOTAS DE RODAPÉ:

    [1]An-Nasaa’i, At-Tirmithi, Ibn Majah e Ahmad. Autenticado pelo Sheik al Albani.

    [2]http://www.islamreligion.com/articles/2231/

    [3]Saheeh Bukhari

    [4]At-Tirmidhi

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