O TEMA DA “DIFERENÇA” NA SURATA AL-RUM

  • Por islamtoday.net
  • Descrição: Esse capítulo do Alcorão mobiliza uma gama impressionante de exemplos para alcançar seu objetivo retórico: afirmar a unicidade do Criador por meio da observação da mudança e variação na Criação.

  • The_Theme_of_Difference_in_Surah_al-Rum_por-BR._001.jpgDeus fez da diferençauma realidade da vida.  Até mesmo os pais e seus filhos diferem, apesar de as crianças serem os descendentes genéticos imediatos de seus pais e apesar de seus pais os terem educado desde a infância.  Diferem em suas perspectivas de vida, personalidades, temperamentos e até aparência física.  De fato, a reprodução sexual e a troca de material genético dos pais garante que os filhos serão diferentes.

    O tema da diferença e o fenômeno associado da mudança, alternância e discordância são empregados tematicamente ao longo da surata al-Rum, o trigésimo capítulo do Alcorão, para afirmar a grandeza de Deus, Sua sabedoria e seu monoteísmo absoluto.

    Deus diz: “E entre os Seus sinais está a criação dos céus e da terra, as variedades dos vossos idiomas e das vossas cores.” (Alcorão 30:22)

    As diferenças entre as compleições das pessoas são uma das diferenças mais óbvias.  Nossas cores variadas são um sinal do poder criativo de Deus e uma manifestação de Sua sabedoria.  Ao mesmo tempo, a cor da pele provou ser um teste para muitos que têm usado essa diferença superficial como critério para julgar os demais.

    Quanto às diferenças em nossos idiomas, existem várias interpretações possíveis.  Isso podeser entendido como se referindo aos nossos vários idiomas.  Também pode ser entendido como as diferenças nas qualidades vocais e competências de fala das pessoas.  Ou ao conteúdo do discurso de uma pessoa, agradável ou abusivo, otimista ou desanimado, ético ou irresponsável.

    Esse versículo aparece na surata al-Rum, o capítulo do Alcorão intitulado “Romanos”.  Esse capítulo começa com uma discussão sobre a manifestação mais virulenta das diferenças humanas: a guerra, particularmente a guerra que acontecia na época entre os dois grandes poderes do mundo: a Roma bizantina e o império persa.  Essa discussão então se abre para uma discussão mais ampla das diferenças entre os destinos das nações e uma promessa de que os muçulmanos – que estavam na época fracos e oprimidos – terão um futuro mais brilhante: “Dentro de alguns anos; porque é de Deus a decisão do passado e do futuro. E, nesse dia, os crentes se regozijarão.” (Alcorão 30:4-5)

    Isso é imediatamente seguido por uma descrição de como as civilizações têm seu momento de ascendência e fraqueza e como o equilíbrio de poder muda ao longo do tempo histórico: “Porventura não percorrem a terra, para observarem qual foi o destino dos seus antecessores? Foram mais vigorosos do que eles, cultivaram a terra e a povoaram melhor do que eles, cultivaram a terra e a povoaram melhor do que eles.” (Alcorão 30:9)

    Esse desenvolvimento temático chega ao seu exemplo mais contundente ao abordar os destinos diferentes que esperam pelas pessoas na Outra Vida: “No dia em que chegar a Hora, nesse dia se separarão.” (Alcorão 30:14)

    Com cada exemplo de diferença, o Alcorão contrapõe a unidade divina de Deus com a variedade e mudança que existe em Sua criação.  Isso é expresso em relação ao tempoquando Deus diz: “Glorificai, pois, Deus, quando anoitece e quando amanhece! Seus são os louvores, nos céus e na terra, tanto na hora do poente como só meio-dia.” (Alcorão 30:17-18)

    Seguir esse foco no tempo é um tratamento temático de lugar e, depois, da alternância da vida e da morte, que é concluída com referência à variedade que existe dentro da espécie humana: “Entre os Seus sinais está o de haver-vos criado do pó ; logo, sois seres que se espalham (pelo globo).” (Alcorão 30:20)

    Isso leva a um foco sobre as diferenças dentro da entidade humana no nível mais íntimo: “Entre os Seus sinais está o de haver-vos criado companheiras da vossa mesma espécie, para que com elas convivais; e colocou amor e piedade entre vós. Por certo que nisto há sinais para os sensatos.” (Alcorão 30:21)

    O versículo progride dos céus e da Terra através da variedade que existe na Criação e chega de uma maneira muito satisfatória à doçura da intimidade humana.  Existe um tratamento paralelo dos céus e da Terra por um lado e a relação complementar entre um homem e uma mulher dentro do contexto do casamento por outro, e o que essas relações têm de estabilidade e potencial criativo.

    É nesse contexto que a discussão chega às diferenças entre as cores e línguas das pessoas e então segue para a alternância da noite e do dia, através de outras manifestações das diferenças dentro da Criação, culminando com o louvor àquelas pessoas para as quais essa grande variedade se torna uma afirmação de fé na unicidade e sabedoria de seu Criador.

    Ao longo da surata al-Rum o tema da diferença na Criação é empregado de propósito para afirmar o monoteísmo e estabelecer a fé e em uma virada retórica eloquente, negar a discordância e dissensão em como as pessoas se relacionam com seu Senhor: “Voltai-vos contritos a Ele, temei-O, observai a oração e não vos conteis entre os que (Lhe) atribuem parceiros. Que dividiram a sua religião e formaram seitas, em que cada partido exulta no dogma que lhe é intrínseco.” (Alcorão 30:31-32)

    Esse capítulo do Alcorão mobiliza uma gama impressionante de exemplos – invocando até mesmo os estágios da vida humana desde a infância à vida adulta e a velhice – para alcançar seu objetivo retórico.  Afirma que a mudança e variação na Criação são parte do plano divino e atestam, por fim, a unidade e sabedoria absoluta do Criador.

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