- Por Aisha Stacey (© 2015 IslamReligion.com)
Descrição: Uma criança roubada, José revelado e o cumprimento de um sonho.
A tigela de ouro foi encontrada nos pertences de Benjamim e seus irmãos ficaram atônitos. Rapidamente perceberam que o ministro-chefe (José) seguiria suas próprias leis e manteria Benjamim como escravo. Isso os perturbou muito. Temiam retornar ao pai sem seu amado filho mais novo. Um dos irmãos se ofereceu para receber a punição no lugar de Benjamim, mas a oferta foi recusada. Outro irmão, provavelmente o mais velho, escolheu ficar no Egito enquanto os outros retornavam à terra natal para encarar o pai Jacó. Quando os irmãos chegaram a casa foram imediatamente até o pai e disseram:
“Ó pai, teu filho roubou e não declaramos mais do que sabemos, e não podemos nos guardar dos juízes. E indaga na cidade em que estivemos e aos caravaneiros com quem viajamos e comprovarás que somos verazes.” (Alcorão 12:81-82)
O profeta Jacó já tinha ouvido tudo isso antes. Quando os irmãos traíram José e o jogaram no poço, foram até o pai implorando e chorando e ainda assim suas palavras não passavam de mentiras. Dessa vez Jacó se recusou a acreditar neles. Voltou-se para eles dizendo: “Qual! Vós mesmos deliberastes cometer semelhante crime! Porém, resignar-me-ei a ser paciente, talvez Deus me devolva ambos, porque Ele é o Sapiente, o Prudentíssimo.” (Alcorão 12:83) Jacó tinha passado anos sofrendo por José e confiando em Deus. Quando essa nova tristeza tomou conta dele, sua primeira reação foi ser paciente. Sabia, sem nenhuma dúvida, que os assuntos de seus amados filhos mais novos eram controlados por Deus.
E apesar de confiar em Deus completamente, Jacó se comportou como qualquer pai nas mesmas circunstâncias. Foi tomado pela dor e chorou de maneira incontrolável. Lembrou-se de José e chorou até ficar doente e perder a visão. Os irmãos estavam preocupados com sua dor e tristeza e questionavam sua dor constante. Perguntaram a ele: “Chorará até o dia de sua morte”? Jacó respondeu que só reclamava de sua dor e tristeza com Deus e que ele (Jacó) sabia de Deus coisas que eles não sabiam. (Alcorão 12:86)
Embora muitos anos tivessem se passado, Jacó não tinha se esquecido de seu filho José. Jacó refletiu sobre o sonho de José e entendeu que o plano de Deus se concretizaria. Jacó estava profundamente magoado pela perda de seus filhos, mas sua fé em Deus o sustentou e ordenou que seus filhos voltassem ao Egito em busca de José e Benjamim.
José revelado
Os irmãos mais uma vez partiram na longa jornada para o Egito. A fome tinha cobrado seu preço nas áreas vizinhas e o povo estava pobre e fraco. Quando os irmãos ficaram diante de José, também estavam entre os pobres. Seu nível de fraqueza os forçou a pedir caridade. Eles disseram:
“Ó excelência, a miséria caiu sobre nós e nossa família; trazemos pouca mercadoria; cumula-nos, pois, a medida, e faze-nos caridade, porque Deus retribui os caritativos.” (Alcorão 12:88)
José não conseguiu suportar ver sua família nessa posição, embora aqueles fossem os homens que o tinham traído. Olhou para sua família e, não conseguindo mais manter segredo, disse:
“Sabeis, acaso, o que nesciamente fizerdes a José e ao seu irmão com a vossa ignorância?” (Alcorão 12:89)
Os irmãos reconheceram José imediatamente, não por causa de sua aparência porque já o tinham visto antes muitas vezes, mas quem mais saberia da verdadeira história de José, senão o próprio José?
“Disseram-lhe: És tu, acaso, José? Respondeu-lhes: Sou José e este é meu irmão! Deus nos agraciou com a Sua mercê, porque quem teme e persevera sabe que Deus jamais frustra a recompensa dos benfeitores.” (Alcorão 12:90)
Os irmãos ficaram com medo porque suas ações passadas eram pecados graves e agora estavam em uma posição de fraqueza. Estavam com medo diante do ministro-chefe do Egito que não era mais um menino pequeno e bonito chamado José. Em seus testes e tribulações José, como seu pai, encontrou conforto na submissão ao Deus Único. Compreendeu a paciência e as qualidades de misericórdia e piedade imbuídas na verdadeira paciência. Olhou para os seus irmãos que tremiam de medo e disse: “Hoje não sereis recriminados! Eis que Deus vos perdoará, porque é o mais clemente dos misericordiosos.” (Alcorão 12:91)
José imediatamente fez planos para reunir sua família. Pediu aos irmãos que retornassem ao pai e colocassem uma camisa antiga (de José) sobre o rosto dele. Isso, disse ele, faria com que tivesse uma visão límpida. Imediatamente, embora o homem estivesse tão longe, voltou seu rosto para os céus e cheirou, acreditando que podia sentir o cheiro de José no ar. Esse é um dos milagres, feito possivelmente por Deus, do profeta José. Quando os irmãos chegaram colocaram a camisa sobre o rosto de Jacó e ele recobrou a visão. Clamou: “Não vos disse que eu sei de Deus o que vós ignorais?” (Alcorão 12:96)
A família do profeta Jacó reuniu seus pertences e viajou para o Egito. Jacó estava ansioso para se reunir com seus filhos. Foram direto para José e o encontraram sentado em um trono. José falou com sua família dizendo: entrem no Egito, se Deus quiser, em segurança.
O início do capítulo 12 do Alcorão, José, começou com o menino José descrevendo seu sonho ao seu amado pai Jacó. Disse: “Ó pai, vi, em sonho, onze estrelas, o sol e a lua; vi-os prostrando-se ante mim.” (Alcorão 12:4) O Alcorão conclui a história de José da mesma forma que a começou, com a interpretação do sonho. As onze estrelas eram seus irmãos, o sol seu pai e a lua, sua mãe.
“José honrou seus pais, sentando-os em seu sólio, e todos se prostraram perante eles; e José disse: Ó meu pai, esta é a interpretação de um sonho passado que meu Senhor realizou. Ele me beneficiou ao tirar-me do cárcere e ao trazer-vos do deserto, depois de Satanás ter semeado a discórdia entre meus irmãos e mim. Meu Senhor é Amabilíssimo com quem Lhe apraz, porque Ele é o Sapiente, o Prudentíssimo.” (Alcorão 12:98-100)
A essência da história de José é paciência em face de adversidade e tristeza. José enfrentou todas as tribulações com paciência e confiança completa em Deus. Seu pai Jacó suportou sua dor e miséria com paciência e submissão. Todos os capítulos do Alcorão foram revelados em épocas particulares, em resposta a situações particulares. Esse capítulo foi revelado ao profeta Muhammad em um momento de grande tristeza. De fato, o ano dessa revelação ficou conhecido como “o ano da tristeza”. O profeta Muhammad teve que suportar a morte de sua amada primeira esposa Khadija e de seu tio Abu Talib. Ambos tinham lhe dado conforto e apoio. Deus estava avisando ao profeta Muhammad que a estrada podia ser longa e difícil, mas que a vitória pertence aqueles que são pacientes e conscientes de Deus. A história de José é uma lição para todos nós. A paciência verdadeira, que os sábios do Islã chamam de paciência bela, é uma chave para o portão do paraíso.