A história de José (parte 2 de 7): Trapaça e engodo

Por Aisha Stacey (© 2015 IslamReligion.com)

Descrição: Os irmãos de José o traíram e Jacó se volta para Deus com paciência e humildade.

 

“Sabei que Deus possui total controle sobre os Seus assuntos; porém, a maioria dos humanos o ignora.” (Alcorão 12:21)

The_Story_of_Joseph_(part_2_of_6_por-BR_001.jpgA história de José confirma incondicionalmente que Deus tem controle total sobre todos os assuntos.  A trapaça e engodo dos irmãos de José só foram bem-sucedidos na preparação de José para a grande posição que alcançaria.  A história de José descreve a onipotência de Deus e dá um relato preciso de Seu poder e supremacia.  A história começa com engodo, mas termina com conforto e alegria.  Uma recompensa adequada para a paciência e submissão total à vontade de Deus que José exibe durante sua longa jornada, confrontando estratagemas e trapaças daqueles ao seu redor.

A paciência que José aprendeu a partir de sua provação o colocou entre os homens virtuosos.  Sua linhagem era impecável, seu tataravô, avô e pai também eram profetas.  Nas tradições cristã e judaica, esses homens eram conhecidos como Abraão, Isaque e Jacó.

Trapaça e engodo

Quando os filhos mais velhos de Jacó pediram permissão para levar José para o deserto brincar, o temor tomou conta do coração de Jacó.  Desde as primeiras palavras deles Jacó suspeitou de trapaça e expressou seu temor de que um lobo pegasse José.  Jacó disse:

“Respondeu-lhes: Sem dúvida que me condói que o leveis, porque temo que o devore um lobo, enquanto estiverdes descuidados.” (Alcorão 12:13)

Satanás trabalha de maneiras sutis e enganadoras e com suas palavras Jacó sem querer supriu seus filhos com a razão perfeita para o desaparecimento de José.  Os irmãos souberam imediatamente que colocariam a culpa do desaparecimento de José sobre um lobo e isso se tornou parte de seu plano covarde.  Por fim Jacó concordou e José partiu com seus irmãos em uma viagem para o deserto.

Foram diretamente para o poço e, sem remorso, pegaram José e o jogaram dentro do poço.  José gritou de medo, mas seus corações cruéis não sentiram pena do irmão mais novo.  Os irmãos se sentiram seguros em seu plano de que um viajante encontraria José e o venderia como escravo.  Enquanto José gritava aterrorizado, os irmãos pegaram um pequeno cabrito ou ovelha de seu rebanho, abateram e jogaram o sangue nas roupas de José.  Totalmente consumidos pela inveja, os irmãos fizeram uma promessa de manter seu ato terrível em segredo e se afastaram satisfeitos consigo mesmos.  Aterrorizado José escalou até uma borda no poço e Deus lhe fez saber que um dia ele confrontaria seus irmãos.  Disse a José que chegaria o dia em que ele falaria com seus irmãos sobre esse evento terrível, mas os irmãos não saberiam que estavam falando com José.

“Algum dia hás de inteirá-los desta sua ação, mas eles não te conhecerão.” (Alcorão 12:15)

Chorar não é evidência de verdade.

Os irmãos voltaram para o pai chorando.  Estava escuro e Jacó estava sentado em casa esperando ansiosamente pelo retorno de José.  O som dos dez homens chorando confirmou seu temor mais profundo.  A escuridão da noite só foi equiparada à escuridão de seus corações.  As mentiras saíram facilmente de suas línguas e o coração de Jacó se contraiu em temor.

“Disseram: Ó pai, estávamos apostando corrida e deixamos José junto à nossa bagagem, quando um lobo o devorou. Porém, tu não irás crer, ainda que estejamos falando a verdade! Então lhe mostraram sua túnica falsamente ensanguentada; porém, Jacó lhes disse: Qual! Vós mesmos tramastes cometer semelhante crime! Porém, resignar-me-ei pacientemente, pois Deus me confortará, em relação ao que me anunciais.” (Alcorão 12:17-18)

Em uma história dos homens virtuosos que vieram depois do profeta Muhammad, há o caso de um juiz muçulmano que estava decidindo a questão de uma mulher idosa.  Os detalhes do caso não são importantes, mas a idosa estava chorando muito.  Com base em evidências o juiz julgou contra ela.  Um amigo do juiz disse: “Ela estava chorando muito, é idosa, por que não acreditou nela?” O juiz disse: “Não aprendeu do Alcorão que chorar não é evidência da verdade? Os irmãos de José foram para o pai chorando.” Estavam chorando, mas cometeram o crime.

Jacó e José estavam entre os homens mais nobres.  O profeta Muhammad descreveu José como o mais digno e generoso dos homens.  Ao ser perguntado quem era o homem mais temente a Deus, ele respondeu: “A pessoa mais honrada é José, profeta de Deus, o filho do profeta de Deus, o filho do servo amado de Deus (Abraão)” [1] Enquanto José sentava no poço, aterrorizado, mas seguro em sua submissão a Deus, Jacó, a muitos quilômetros de distância, sentia seu coração apertado pelo temor e pela dor, mas sabia que seus filhos estavam mentindo.  Como esperado de um profeta de Deus, com lágrimas rolando pelo seu rosto, Jacó disse:

“Qual! Vós mesmos tramastes cometer semelhante crime! Porém, resignar-me-ei pacientemente, pois Deus me confortará, em relação ao que me anunciais.” (Alcorão 12:18)

Era um dilema para Jacó. O que devia fazer?  Sabia que seus filhos estavam mentindo, mas quais eram suas opções?  Matar seus filhos?  Devido à sua submissão completa a Deus, Jacó sabia que esse assunto estava fora de suas mãos.  Não tinha opção a não ser confiar em Deus e se voltar para Ele com esperança e paciência.

No fundo do poço, José orava.  Pai e filho se voltaram para Deus na escuridão da noite.  Uma mistura de temor e esperança encheu seus corações e a noite abriu caminho para um novo dia.  Para Jacó o dia significava o começo de muitos anos a serem preenchidos com confiança em Deus e paciência.  Para José, os raios do sol da alvorada refletiram nas bordas do poço.  Se pudesse ver o horizonte, teria visto uma caravana se aproximando.  Minutos depois um homem jogou seu balde no poço esperando encontrar água fresca e limpa.

 


Notas de rodapé:

[1] Saheeh Al-Bukhari.

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