- Por Aisha Stacey (© 2015 IslamReligion.com)
Descrição: Surtos de raiva não fazem parte dos ensinamentos do Islã. A raiva deve ser administrada de maneira aceitável.
Embora a raiva seja um sentimento natural, pode ter efeitos negativos naqueles que permitem que ela os controle e nos que os rodeiam. A raiva pode destruir relacionamentos, a saúde, os bens e os meios de sustento. A raiva sem controle é uma das ferramentas de Satanás e pode levar a muitos males e tragédias. Por essa razão o Islã tem muito a dizer sobre a emoção da raiva.
Como a raiva está geralmente associada com “respostas de luta ou fuga”, é difícil separar uma ação feita em legítima defesa (ou para proteger bens ou famílias) daquela feita movida pela raiva sem controle. É normal sentir raiva, mas não é aceitável quando uma pessoa permite que ela a controle e a leve a agir de maneira inaceitável, às vezes levando até ao assassinato e ao caos. A história de um evento da vida de um dos companheiros do profeta Muhammad, seu genro Ali, demonstra a diferença.
Ali ibn Abi Talib uma vez estava lutando em uma guerra, quando o líder do exército não-muçulmano o atacou. Durante o confronto Ali conseguiu dominá-lo e estava prestes a matá-lo, quando seu oponente cuspiu no rosto de Ali. Ali imediatamente se afastou e deixou o homem em paz. O homem disse: “Você podia ter me matado. Por que parou?”? Ali respondeu: “Não tenho animosidade pessoal em relação a você. Estava lutando por causa de sua descrença e rebelião contra Deus. Se o tivesse matado depois de ter cuspido em meu rosto, teria sido por causa de minha raiva pessoal e desejo de vingança, e não desejo me vingar.”
O profeta uma vez perguntou aos seus companheiros: “Quem entre vocês se considera um homem forte?” Responderam: “Aquele que pode derrotar fulano em uma disputa de luta.” Ele disse: “Não é assim. Um homem forte é aquele que controla sua raiva.”[1]
Se uma pessoa não tem certeza sobre como agir em qualquer situação, como sempre só precisa olhar para o profeta Muhammad ou seus predecessores virtuosos para encontrar a melhor maneira de agir. O profeta Muhammad era conhecido por ser um homem que podia controlar sua raiva mesmo sob circunstâncias extremas. Um dia o profeta foi atacado por um beduíno que o segurou pela gola de seu manto, deixando marcas em seu pescoço que puderam ser vistas pelos companheiros dele. O beduíno exigia que o profeta Muhammad desse a ele algum tipo de riqueza. O profeta (que tinha todo o direito de estar com raiva) se voltou para ele, sorriu e então ordenou que ele (o beduíno) devia receber algo que o agradasse.[2]
Também podemos seguir o exemplo do profeta ao sentirmos raiva em nome de Deus, quando Seus direitos são violados. Esse é o tipo de raiva controlada que é louvável. O profeta Muhammad ficava zangado quando alguém lhe dizia que o imame estava afastando as pessoas da oração ao estendê-la demais, quando via uma cortina com imagens de criaturas vivas e quando lhe faziam perguntas que ele não gostava. Entretanto, sua raiva era puramente em nome de Deus e ele não perdia o controle ou fazia as pessoas terem medo de estar em sua presença.
Quando o profeta Muhammad ficava zangado devido às palavras ou ações incorretas de alguém, nunca expressava com sua mão e usava somente palavras brandas. Aqueles que não o conheciam bem nem suspeitavam que estivesse zangado. Seus companheiros, entretanto, sabiam que estava zangado apenas em olhar para ele. Seu rosto ficava vermelho e sua testa cheia de suor. Mas ao invés de expressar sua raiva abertamente ele ficava quieto, usando esses primeiros momentos para se controlar.
Controlar a raiva é um sinal de virtude. Uma pessoa virtuosa tem a promessa do Paraíso e uma das características da virtude é ser capaz de controlar a raiva.
“Emulai-vos em obter a indulgência do vosso Senhor e um Paraíso, cuja amplitude é igual à dos céus e da terra, preparado para os tementes. Que fazem caridade, tanto na prosperidade, como na adversidade; que reprimem a cólera; que indultam o próximo. Sabei que Deus aprecia os benfeitores. ” (Alcorão 3:133-134)
“Tudo quanto vos foi concedido (até agora) é o efêmero gozo da vida terrena; no entanto, o que está junto a Deus é preferível e mais perdurável, para os fiéis que se encomendam a seu Senhor. São aqueles que as abstêm dos pecados graves e das obscenidades e que, embora zangados, sabem perdoar.” (Alcorão 42:36 & 37)
A raiva é uma emoção humana muito natural. Também é muito poderosa e pode variar em intensidade de irritação leve a raiva e fúria intensas. As últimas podem ser destrutivas. Podem enfurecer uma pessoa, criando um desejo por revanche e levando-a a atacar o objeto de sua raiva. Como é natural é impossível para uma pessoa evitá-la completamente. Entretanto, é possível compreender a raiva e, assim, controlá-la.
Quando uma pessoa fica zangada, seja como resultado de provocação ou não, tem a opção de controlar sua raiva respondendo de uma maneira sancionada pelo Alcorão e pelas tradições do profeta Muhammad, ou pode ceder à onda de emoção e se comportar de uma forma que desagrada a Deus, mas alegra a Satanás.
Em uma era em que parece que o Islã está sendo denegrido no mundo todo, muitos muçulmanos se deixam levar pela raiva. Sim, magoa ter nossa religião e nosso amado profeta abusados e vilificados, mas como crentes não devemos deixar nossas emoções ditarem nossas ações. As ações devem ser baseadas no conhecimento e sabedoria divinos. Não podemos parar completamente aqueles que mancham o Islã com suas mentiras e engodos, mas podemos nos controlar, educar as massas e adotar outros passos positivos legislados pelo Islã.
Na parte 2 examinaremos exemplos de como nos comportarmos quando zangados, tirados do Alcorão e das tradições do profeta Muhammad.